domingo, 30 de agosto de 2020

"All of Me", por John Legend: poesia e amor

Capa do álbum Love in the Future.

DEDICADA À ESPOSA de John Legend, Chrissy Teigen, a canção All of Me foi lançada em agosto de 2013 como terceiro single de divulgação e sexta faixa do álbum Love in the Future. Não demorou muito para alcançar o primeiro lugar da Billboard Hot 100, feito que aconteceu em maio de 2014.
É mais uma das músicas que tenho orgulho de ter aprendido a tocar no violão.
O álbum Love in the Future é um dos meus favoritos e esta canção é marcante. Abaixo deixo o vídeo da canção tal como sua letra traduzida:


John Legend, "Tudo em Mim"

O que eu faria sem sua boca esperta?
Me arrasto e você continua me afastando
Minha cabeça está girando, sem brincadeira
Não posso te forçar a nada
O que está se passando nessa mente linda?
Estou nessa sua caminhada misteriosa e mágica
E estou um pouco confuso, não sei o que me atingiu
Mas vou ficar bem

Minha cabeça está sob a água
Mas estou respirando bem
Você enlouqueceu
E eu perdi a noção

Porque tudo de mim
Ama tudo de você
Ama suas curvas e suas pontas
Todas as suas perfeitas imperfeições
Se entregue por completo a mim
E eu me entregarei por completo a você
Você é meu fim e meu começo
E mesmo perdendo, estou ganhando

Pois eu lhe dou tudo de mim
E você me dá tudo de você

Quantas vezes mais tenho de dizer a ti?
Até quando estás chorando, continuas linda
O mundo está a te colocar para baixo
Mas estou ao seu lado
O que quer que aconteça
Você é meu ponto fraco, você é minha musa
Minha pior distração, meu rhythm and blues
Não consigo parar de cantar
Está a tocar em minha cabeça
Por você

Minha cabeça está sob a água
Mas estou respirando bem
Você enlouqueceu
E eu perdi a noção

Porque tudo de mim
Ama tudo de você
Ama suas curvas e suas pontas
Todas as suas perfeitas imperfeições
Se entregue por completo a mim
E eu me entregarei por completo a você
Você é meu fim e meu começo
E mesmo perdendo, estou ganhando

Pois eu lhe dou tudo de mim
E você me dá tudo de você

Me dá tudo em você
Cartas à mostra na mesa
Estamos com o coração aberto
Arriscando tudo
Mesmo com as dificuldades

Porque tudo de mim
Ama tudo de você
Ama suas curvas e suas pontas
Todas as suas perfeitas imperfeições
Se entregue por completo a mim
E eu me entregarei por completo a você
Você é meu fim e meu começo
E mesmo perdendo, estou ganhando

Pois eu lhe dou tudo de mim
E você me dá tudo de você

Eu lhe dou tudo de mim
E você me dá tudo de você

domingo, 23 de agosto de 2020

"Drão", por Gilberto Gil: uma história de amor e desamor

Capa do álbum Um Banda Um.

NÃO HÁ DÚVIDAS ao se ouvir isto: Gilberto Gil é um dos maiores músicos brasileiros de todos os tempos. No dia 26 de junho foi seu aniversário de 78 anos e uma nova versão de Andar com Fé foi lançada, onde vários músicos fizeram suas homenagens enquanto cantavam a música.
Assistindo ao vídeo de Drão no YouTube — sétima faixa do álbum Um Banda Um, lançado em 1982 —, um comentário me chamou a atenção. Ele continha uma matéria postada nos anos 2000 pela revista Marie Claire, que trazia detalhes sobre a história da canção trazida por Sandra Gadelha, que foi casada com Gil entre 1969 e 1980. O comentário dizia:

"Por trás da letra: 'Drão', de Gilberto Gil:
O compositor a escreveu em 1981, poucos dias depois da separação. A letra é uma parábola sobre o amor, que não morre – e sim, se transforma. Assim como o trigo, ele nasce, vive e renasce de outra forma. Há referências à cama de tatame onde o casal costumava dormir ('cama de tatame pela vida afora') e aos três filhos frutos do relacionamento deles ('os meninos são todos sãos'). 
O curioso é que o próprio Gil era um dos poucos da roda de amigos que não chamava a mulher de Drão. Ele e Caetano a chamavam de 'Drinha'.
O apelido foi dado por Maria Bethânia. 'Drão' vem do aumentativo de Sandra, a terceira mulher de Gilberto Gil. Ao virar título de um dos maiores sucessos do compositor, o apelido incomum sempre foi confundido com a palavra 'grão'. Sandra Gadelha desfaz o mal-entendido e se assume como inspiração dos versos densos, compostos em 1981, em plena separação do casal. Gil diz que foi bem difícil escrever a letra, uma poesia profunda e sutil do amor e do desamor. 'Como é que eu vou passar tanta coisa numa canção só?', questiona-se Gil no livro 'Gilberto Gil-Todas as Letras' (Cia. das Letras).
Os dois foram casados por 17 anos e tiveram três filhos: Pedro, Maria e Preta. Hoje, aos 53 anos, Sandra mora sozinha no Rio, sonha em montar uma pousada e se lembra com carinho da canção que marcou o fim de seu casamento. Por uma feliz coincidência, Sandra costuma ouvir sempre a 'sua' música no rádio do carro. Uma emissora carioca parece estar programada para tocá-la todos os dias, às 11h. A ouvinte especial está sempre sintonizada. 
Sandra Gadelha disse, 'Desde meus 14 anos, todo mundo em Salvador me chamava de Drão. Fui criada com Gal [Costa], morávamos na mesma rua. Sou irmã de Dedé, primeira mulher de Caetano. Nossa rua era o ponto de encontro da turma da Tropicália. Fui ao primeiro casamento de Gil. Depois conheci Nana Caymmi, sua segunda mulher. Nosso amor nasceu dessa amizade. Quando ele se separou de Nana, nos encontramos em um aniversário de Caetano, em São Paulo, e ele me pediu textualmente: 'Quer me namorar?'. Já tinha pedido outras vezes, mas eu levava na brincadeira. Dessa vez aceitei. 
Engraçado que Gil mesmo não me chamava de Drão. Antes havia feito a música 'Sandra'. Já 'Drão' marcou mais. Estávamos separados havia poucos dias quando ele fez a canção. Ele tinha saído de casa, eu fiquei com as crianças. Um dia passou lá e me mostrou a letra. Achei belíssima. Mas era uma fase tumultuada, não prestei muita atenção. No dia seguinte ele voltou com o violão e cantou. Foi um momento de muita emoção para os dois. 
Nos separamos de comum acordo. O amor tinha de ser transformado em outra coisa. E a música fala exatamente dessa mudança, de um tipo de amor que vive, morre e renasce de outra maneira. Nosso amor nunca morreu, até hoje somos muito amigos. Com o passar do tempo a música foi me emocionando mais, fui refletindo sobre a letra. A poesia é um deslumbre, está ali nossa história, a cama de tatame, que adorávamos. No começo do casamento moramos um tempo com Dedé e Caetano, em Salvador, e dormíamos em tatame. Durante o exílio, em Londres, tivemos de dormir em cama normal. Mas, no Brasil, só tirei o tatame quando engravidei da Preta e o médico me proibiu, pela dificuldade em me levantar. 
A primeira vez em que ouvi 'Drão' depois que Pedro, nosso filho, morreu [num acidente de carro em 1990, aos 19 anos] foi quando me emocionei mais. Com a morte dele a música passou a me tocar profundamente, acho que por causa da parte: 'Os meninos são todos sãos'. Mas é uma música que ficou sendo de todos, mexe com todo mundo. Soube que a Preta, nossa filha, chora muito quando ouve 'Drão'. Eu não sabia disso, e percebi que a separação deve ter sido marcante para meus filhos também. As pessoas me dizem que é a melhor música do Gil. Djavan gravou, Caetano também. Fui ao show de Caetano e ele não conseguia cantar essa música porque se emocionava: de repente, todo mundo começou a chorar e a olhar para mim, me emocionei também. E, engraçado, Caetano é o único dos nossos amigos que me chama de Drinha.'"

Gilberto Gil, Sandra Gadelha
e a pequena Preta Gil (
circa 1974)

Abaixo, a canção interpretada por Gilberto Gil e Caetano Veloso — parte do álbum que nasceu da turnê de ambos, Dois Amigos, Um Século de Música —, assim como a letra da música:


Gilberto Gil, "Drão"

Drão
O amor da gente é como um grão
Uma semente de ilusão
Tem que morrer pra germinar
Plantar nalgum lugar
Ressuscitar no chão, nossa semeadura
Quem poderá fazer aquele amor morrer
Nossa caminhadura
Dura caminhada pela noite escura

Drão
Não pense na separação
Não despedace o coração
O verdadeiro amor é vão, estende-se infinito
Imenso monolito, nossa arquitetura
Quem poderá fazer aquele amor morrer
Nossa caminha dura
Cama de tatame, pela vida afora

Drão
Os meninos são todos sãos
Os pecados são todos meus
Deus sabe a minha confissão, não há o que perdoar
Por isso mesmo é que há de haver mais compaixão
Quem poderá fazer aquele amor morrer
Se o amor é como um grão
Morre, nasce, trigo, vive, morre, pão

Oh, oh
Drão

domingo, 16 de agosto de 2020

"Oceano", por Djavan: sobre o amor e suas características

OUTRO DOS CANTORES que eu amo ouvir é Djavan. A canção Oceano, segunda faixa do álbum Djavan, de 1989, é, além de uma das minhas favoritas, uma das mais famosas do artista. Tão famosa que "substituiu" o nome do nono álbum: as pessoas não reconhecem Djavan como o verdadeiro nome do álbum, mas sim "Oceano", tamanho foi o sucesso da música.
O cantor fala o seguinte sobre a canção em um vídeo em seu canal no YouTube:

"Oceano é sempre marcante porque é uma música... Eu a compus há 31 anos atrás.
Às vezes, eu começo a compor uma canção, e, por alguma razão, eu não curto, deixo de achar aquilo interessante. E aí eu deixo lá. Eu nunca apago nada, então eu tenho por aí cerca de uns dez mil pedaços de música. (Risos)
Então, eu estava nos Estados Unidos gravando alguma coisa, não lembro se era um disco, mas eu sei que estava lá e falei com a Flávia [Virginia, filha de Djavan] pelo telefone e ela me disse, "Pai, eu estava aqui mexendo nas suas fitas e descobri um pedaço de música que eu achei lindo, como é que você abandonou isso?", eu respondi, "O que que é? Bota aí para tocar", ela botou, eu ouvi e era Oceano, cantada ainda com um esboço de letra em Espanhol. "Realmente é lindo."
Eu voltei pro Brasil, peguei de novo nessa fita e terminei a música. Isso foi cinco anos depois, fazia cinco anos que eu tinha começado Oceano.
O que é um clássico, né? O poder de uma música composta há tantos anos, e onde eu cantá-la vai ser assim, como se as pessoas estivessem a cantando pela primeira vez, com aquela força, com aquele desejo.
Eu fico, nos momentos em que estou cantando só com a voz e o violão, num tipo de formato que desnuda ainda mais, me desnuda bastante, e as pessoas cantam aquilo do começo ao fim com uma gana, e ainda se emocionam, e me emocionam, me fazem até chorar às vezes.
É uma coisa inexplicável, o clássico é uma coisa inexplicável. Você faz uma música hoje sem a menor pretensão de nada, não pensa no futuro, pensa só ali, naquele momento, e a canção acaba te acompanhando pro resto da vida. Isso acontece com muitas canções e é incrível."

Capa do álbum Djavan.

Hugo Sukman, jornalista e crítico de cinema e música, escreve o seguinte sobre o álbum:

"O trabalho acabou ficando conhecido como: 'aquele do Oceano'. Não que o resto das canções não tenha importância. Muito pelo contrário. Trata-se de um dos melhores conjuntos de canções já reunidos por Djavan. É que Oceano é considerada a canção perfeita."

E eu concordo. Oceano é a canção perfeita de Djavan.
Abaixo, deixo sua belíssima letra e a apresentação ao vivo do cantor, em sua turnê Rua dos Amores:


Djavan, "Oceano"

Assim
Que o dia amanheceu
Lá no mar alto da paixão
Dava pra ver o tempo ruir
Cadê você?
Que solidão
Esquecera de mim

Enfim
De tudo que há na terra
Não há nada em lugar nenhum
Que vá crescer sem você chegar
Longe de ti tudo parou
Ninguém sabe o que eu sofri

Amar é um deserto
E seus temores
Vida que vai na sela 
Dessas dores
Não sabe voltar
Me dá teu calor

Vem me fazer feliz
Porque eu te amo
Você deságua em mim
E eu oceano
Esqueço que amar
É quase uma dor

Só sei
Viver
Se for
Por você

domingo, 9 de agosto de 2020

"Laços", por Tiago Iorc: sobre reconhecer o amor próprio

TIAGO IORC NÃO ERA um dos cantores que eu gostava e confesso que parte disso foi pelo imenso sucesso de Amei Te Ver (lançada em 2015) e a constate repetição desta música em rádios e na televisão. Depois do lançamento de Troco Likes — álbum cuja canção Amei Te Ver faz parte —, Iorc não produziu mais nada. Em janeiro de 2018, anunciou em suas redes sociais que iria tirar uma pausa em sua carreira e das redes sociais. O motivo da pausa era "dar um tempo na vida instagrâmica que nos consome e permitir viver sem calcular tanto".
Iorc só voltou a dar as caras em maio de 2019 quando, sem nenhum aviso prévio, lançou seu mais recente álbum Reconstrução. De acordo com a crítica especializada, o álbum fala de amor e temas densos e introspectivos, que podem estar relacionados ao período de exílio em que o cantor se submeteu. O álbum teve a canção Desconstrução  indicada em duas categorias para o Grammy Latino, Canção do Ano e Melhor Canção em Língua Portuguesa, vencendo a última citada. Todas as canções do álbum tiveram vídeos que, assistidos na mesma ordem do álbum, formam um filme.

Capa do CD Reconstrução.

Dentre as faixas do álbum, a que mais se destacou para mim foi Laços. A faixa fala sobre recomeços e resistências, sobre agradecer o viver, sobre o autoconhecimento e o amor próprio. Linda, sua letra é totalmente poética e é acompanhada por um violão que fica a ser dedilhado ao fundo. Mais tarde, viria a ser revelado que ela foi escrita especialmente para a trilha sonora do filme Turma da Mônica: Laços[1]. Daniel Rezende, diretor do filme, disse que queria um artista que fosse autoral e popular e que Iorc "transitava entre os dois mundos".
Abaixo, como é de costume, trago o vídeo da canção e sua letra:


Tiago Iorc, "Laços"

Cada centímetro de chão
Pedaço da imensidão
Poeira interestelar
Quanta sorte é poder chegar
Nessa vida com você

Todo caminho trilha um sol
Dentro do olhar de cada um
Se conhecer pra se gostar
Ser mais forte por acreditar
Na alegria de viver

Cada suspiro é gratidão
De ver entrelaçar as mãos
Que juntas podem muito mais

Ter um norte
Pra poder sonhar
Ser a brisa
Vendaval pra transformar

Gota de lágrima
Trovão que vem do mar
Revolução
E a chance pra recomeçar

Quero a sorte
De reaprender
Essa vida
Ser a chuva que quer chover

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Notas:

[1] Um novo vídeo da música foi lançado, com cenas do filme como base.

domingo, 2 de agosto de 2020

"Duas da Tarde", por Silva: sobre contemplar e agradecer os detalhes da vida

AGOSTO SERÁ UM MÊS musical em meu blog. Estou de mudança e as músicas têm sido minha principal companhia durante os momentos de encaixotamento. Portanto, pelos próximos 5 domingos deste mês — incluindo já este — trarei algumas das músicas que mais gosto de ouvir.

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Capa do CD Brasileiro.

ESSA PRIMEIRA MÚSICA tem um espaço reservado em meu coração. Silva lançou o álbum Brasileiro em 2018 e ele automaticamente se tornou meu álbum brasileiro favorito. Um misto de MPB e Bossa Nova, o álbum recebeu um Disco de Ouro. Estive presente durante a turnê do cantor, quando ele passou por Natal no mesmo ano. Guardo a memória com carinho.
Trago hoje a terceira canção do álbum, Duas da Tarde. Durante a quarentena, decidi aprender violão e ela foi uma das canções que dei prioridade na lista. Me orgulho muito de conseguir tocá-la e cantá-la por completo. Gosto da sensação de paz e tranquilidade presente no ritmo.


Silva, "Duas da Tarde"

Vem cá
Pra fora da cama
São duas da tarde
Vou ali ver o mar

Vê lá
Não dorme de novo
Tá linda a paisagem
Não dá mais pra esperar

Vou ali me desagregar
Pra onda azul juntar
Somente o que for bom
O resto vai passar

No mergulho eu falei com Deus
Quando eu sair do mar
Vou me lembrar do dom
Que é poder respirar