sábado, 23 de novembro de 2019

Ao aniversariante do dia...


A GENTE APOSTAVA quem ficava mais tempo debaixo d'água, mas não usávamos uma piscina  a cabeça ficava dentro de um balde grande. A gente subia e descia a ladeira da Usina, no Rio de Janeiro, imitando Marco e Tarma, os heróis do arcade Metal Slug. A gente teve Beyblade de metal (e a minha caiu num rio: eu chorei, ele riu). A gente travou um portão eletrônico de garagem e entrou em desespero sem saber o que fazer, enquanto o portão fazia um barulho altamente insano, anunciando ao mundo que estava emperrado. Eu já fingi ter levado um tiro à noite e o deixei desesperado; ele se vingou fingindo ter endoidado após eu derrubá-lo jogando Futebol Americano. A gente passou noites e horas jogando clássicos de PlayStation e PolyStation, desde Shadow of the Colossus a Super Mario Bros. A gente cagava de medo de jogar Resident Evil 4, especialmente porque era à noite. E teve aquela vez em que ele me ofereceu leite em pó puro e eu quase morri engasgado com a pasta que se formou e parou na minha garganta...
Hoje, esse cara, com quem eu tive diversas e milhões de aventuras, e ainda tenho o prazer de ter ao meu lado, completa 23 anos. Ainda não vi melhor Designer nem melhor jogador de League of Legends. O Matheus é um tipo de cara que você gosta de ter ao lado, por causa da risada, do jeito, de tudo. E eu tenho muito orgulho de tê-lo como irmão.
Parabéns, mano. Que possamos viver muitas aventuras mais, eterno Marco!
Do seu eterno companheiro,
Lucas "Tarma" Cristovam

domingo, 3 de novembro de 2019

Singularidades...

AS JANELAS ME CONVIDAM para refletir. Sentado à janela do carro, ao som de Summer Madness — minha música favorita, um instrumental da banda Kool and the Gang —, fiquei a pensar sobre minha vida e o rumo que ela tem tomado.
“Estou vivendo ou apenas existindo?”, diz um meme que circula pela internet. Pus minha mente para pensar na pergunta. Essa semana, não fui para minha terapia — foi feriado no dia, descansei — mas decidi refletir sobre o assunto antes de levá-lo para o consultório.
“A vida é o que você faz dela”, diz a banda Talk Talk em sua canção Life Is What You Make It. O que tenho feito da minha?
Olhei para o céu e observei as nuvens passando, livres e leves. Já tive muitos pesos carregados do passado. Senti-me como uma nuvem a ponto de chover diversas vezes, mas simplesmente não o fazia. Falei sobre isso em uma crônica anterior, sobre a importância da tristeza. Talvez, se eu tivesse chovido mais vezes, não teria trazido tanta carga comigo durante todo meu trajeto nessa vida.
Ah, essa vida… Vida de surpresas. Creio que uma das maiores delas foi minha mudança para o Rio Grande do Norte. Como estaria sendo minha vida se ainda estivesse no Rio de Janeiro? Será que teria tomado a coragem de me redescobrir, de pedir ajuda, de aceitar buscar tratamento psicológico? Me pergunto como estaria sendo…
Parece que, por sermos humanos, frágeis por natureza, temos a necessidade de estar no controle das coisas. Talvez esse seja o maior motivo de eu estar agora refletindo e escrevendo sobre esse questionamento que fiz no começo do texto. “Estou vivendo ou apenas existindo?” Vivi por muito tempo tendo essa pergunta como foco.
Outro trecho musical me vem à cabeça: “Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia” (Lulu Santos, Como Uma Onda – Zen-surfismo). Minha fragilidade ainda me gera inseguranças sobre o futuro. Sobre o passado. Influencia diretamente o presente. “Como será meu amanhã?”, às vezes me vejo a questionar no hoje.
Vejo pessoas passarem por mim. Agora, encontro-me na entrada do meu setor na Universidade. Quem diria que estaria cursando o Ensino Superior em uma das melhores Universidades públicas do país? E que estaria me encontrando com ela… Outra surpresa da vida. Penso no orgulho daqueles que torcem por mim. Agradeço a todos mentalmente, enquanto admiro a estrutura do prédio onde estudo.
Epitáfio dos Titãs diz:

Devia ter amado mais,
Ter chorado mais,
Ter visto o sol nascer,
Devia ter arriscado mais,
E até errado mais,
Ter feito o que eu queria fazer.

Vejo um menino sentado, fones nos ouvidos, a desenhar alguma coisa. Folhas nas árvores. O vento sopra, balançando-as. Ao fundo, sons de carros passando para lá e para cá. “Há uma imprevisibilidade na vida”, li ainda agora, no Instagram. É essa imprevisibilidade a responsável pelas surpresas.
Sinto-me vivo. Sinto-me existir. Sinto.
São tantas as singularidades que compõem a vida, e cada detalhe único do agora faz com que o geral valha muito mais a pena. Que eu possa admirar e me surpreender ainda mais com o que cada dia me espera. “E nada como um dia após o outro”, diz Tiago Iorc em sua canção.
Sobre meu passado, ele já ocorreu e eu vivi e existi lá. Errei e aprendi com os erros. Acertei e hoje me orgulho de cada um dos acertos. Sobre meu amanhã… Eu me preocupo com o amanhã quando ele chegar.
No momento, o que pretendo é continuar vivendo e existindo no agora, que é o que realmente importa como resposta para a dualidade causada pela pergunta “Estou vivendo ou apenas existindo?”.
(Dedicado a Karen de Souza e Álex Costa.)

/ 30 out 2019