sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Entre pais e filhos


SOU COLECIONADOR ASSÍDUO de quadrinhos e amo passar horas e horas lendo as mais variadas e diversas aventuras que são criadas mundo afora. No meio de todo o panteão de heróis que são criados, os que sempre me chamam mais atenção são aqueles que não dispõem de superpoderes, mais ainda assim possuem a determinação de encarar qualquer perigo que exista. Batman, o detetive Rip Kirby, o sargento Pat de “Rádio Patrulha”, Brick Bradford, são exemplos, só para nomear alguns.
Mas, nesse meio, existe um cara na vida real que também é um herói para mim, e, nesse momento, entendo que isso pode ser um clichê para muitos, mas a verdade é exatamente essa como vos digo. Esse cara é meu pai, Ismenio.
A memória mais antiga que tenho foi do clássico dia em que ele decidiu me levar ao Museu da Marinha, no Rio de Janeiro. Esse foi um dia engraçado demais – mas apenas hoje eu consigo dar risadas. Eu não fazia ideia do que me esperava, e a inocência da infância não me fez ligar bem os pontos: eu morro de medo de água e estava indo a um lugar cujo objetos expostos ficavam justamente nela. Um submarino, um navio... E ao chegar na porta do Museu e ver o que nos aguardava, estava feito o estrago. Pus-me a chorar dizendo que nunca entraria naquilo. “E se a corda que sustentava aquele submarino arrebentasse com a gente dentro!?” Lá se foi um dos nossos primeiros passeios.
A memória mais recente que tenho aconteceu ontem mesmo. Meu pai, ainda não contei esse fato mas gostaria de deixá-lo aqui para que saibam muito bem disto, é um dos caras mais engraçados que já conheci. E ele é um Rei dos Memes, com maiúsculas para indicar que esse posto tem dono e é muito bem ocupado. E lá vinha ele me gritando pela casa, entre risadas, para me mostrar um vídeo hilário em que um cara acidentalmente martelava seu próprio dedo e, ao virar para trás balançando a mão com dor, recebia um violão em seu colo e o balancear começava a tocar o instrumento. E estávamos nós a cair juntos na gargalhada.
Ou seja, entre chorar e rir, ou até chorar de rir, de emoção, principalmente, é quase como que num estalo de dedos quando na companhia do papai. As mesmas emoções que a maioria dos heróis que citei anteriormente, fictícios, me proporcionam. A lógica do pensamento me leva àquela conclusão anteriormente dita: meu pai é mesmo um herói. Só pode.
Existem outras milhões de memórias que guardo com gigantesco carinho em minha mente. E, hoje, o responsável por elas completa mais um ano de vida. Papai passou dos quarenta mas possui uma alma extremamente jovem. Aprendo todos os dias com ele sobre diversas e inúmeras coisas, mas a mais especial é a de como ser um humano melhor. Papai é meta nesse ponto, pois ele tem um coração extremamente puro que sempre me põe um sorriso no rosto quando penso no dono. Papai é um dos meus maiores crushes e não temo assumir o quanto o admiro. E o homem também é bonito! O pacote é completo.
Espero poder compartilhar ainda mais momentos com ele, vivendo as mais variadas aventuras que a vida nos proporcionar. E espero poder compartilhar mais aniversários com ele, agradecendo as mais variadas chances que a vida lhe dá.
Obrigado, pai. Por tudo isso, posso lhe dizer três palavras que resumem bem como me sinto:
Eu te amo.
Feliz dia 28 de fevereiro. Feliz teu dia.
Feliz aniversário.
Do seu filho favorito que nasceu em Irajá.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Mudanças (e a header nova)

COMO É DE COSTUME, gosto de mudar a header do blog todo novo ano, e faço isso desde o primeiro. Parte do costume é pelo fato do ano anterior, parte é pela minha visão do futuro. Explicarei mais à frente. Mas, antes, vamos ao que interessa: a header desse ano é essa: 


Ela representa, principalmente, mudanças.
Em uma exposição, intitulada “Força, precisão, leveza: aço e criação artística”, que estava em exposição no Museu de Arte Moderna, enquanto estive no Rio de Janeiro neste período de férias, encontrei uma frase interessante:

“A transformação é inerente a todas as ações e coisas da vida. Tudo se transforma. Nada é permanente.” (Franklin Espath Pedroso, outubro de 2019)

2019 foi um ano marcante para mim. Mencionei inúmeras vezes em outros textos aqui do blog que comecei a fazer terapia psicológica no meio do ano passado, e mencionei também o quão importante todo o processo tem sido para mim. Acho que foi o ponto que merece o maior destaque. A terapia tem me ajudado a organizar melhor os pensamentos e a compreender meu eu.
Uma das coisas mais importantes que estou aprendendo é a lidar e compreender meus próprios sentimentos. Tem muita coisa dentro de mim que foi ignorada por muito tempo e hoje eu não sei como reagir quando dou de cara com elas. Essa é uma das principais mudanças que estão ocorrendo em mim. 
Sinto que escrever se tornou importante para mim, de modo a tentar expressar melhor justamente como me sinto ou me senti em relação a fatos ou acontecimentos. Pretendo escrever mais ainda para tornar cada vez mais claras as sensações que preenchem meu corpo, dia após dia.
Estou mudando constantemente, me redescobrindo o tempo todo, mas ao mesmo tempo vejo que minha essência continua aqui, presente e forte. Continuo apaixonado por quadrinhos, continuo apaixonado por descobertas e estudos, em especial a Filosofia, as Ciências e a Tecnologia. Passei a falar menos, porém, mas os assuntos agora são mais precisos, focados. Continuo curioso pela vida e por tudo que ela pode proporcionar.
Por isso a header desse ano traz essa ideia de mudança. Porque uma parte de mim ainda é a mesma, mas outras partes estão constantemente a mudar.
E vejamos o que 2020 trará a todos nós, e, em especial, a mim.

Lucas Cristovam, 24 de fevereiro de 2020,
Parnamirim, Rio Grande do Norte, Brasil.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

"Fast Car", por Tracy Chapman

ESCRITA, GRAVADA E LANÇADA em 1988, a canção “Fast Car” de Tracy Chapman foi um sucesso para aquele ano. Quando Tracy fez sua performance durante o Tributo aos 70 Anos de Nelson Mandela, em 11 de junho, isso foi o suficiente para fazer a música alcançar a sexta posição no Billboard Hot 100.
Em 1989, “Fast Car” recebeu duas nomeações ao Grammy Awards como Gravação do Ano e Música do Ano, assim como Melhor Vídeo Feminino no MTV Video Music Award. A revista Rolling Stone colocou a música na posição 167 das 500 Melhores Músicas de Todos os Tempos. Ela é a segunda canção do álbum Tracy Chapman, primeiro disco da cantora.


Tracy Chapman, “Carro Rápido”

Você tem um carro rápido
Quero uma passagem pra qualquer lugar
Talvez possamos fazer um acordo
Talvez juntos possamos chegar em algum lugar
Qualquer local é melhor
Começando do zero, não há nada a se perder
Talvez faremos alguma coisa
Eu mesmo não tenho nada a provar

Você tem um carro rápido
Tenho um plano para nos tirar daqui
Tenho trabalhado nessa mercearia
E consegui juntar um pouco de dinheiro
Não precisa dirigir pra tão longe
Basta cruzar a fronteira e ir pra cidade
Você e eu podemos arranjar empregos
E descobrir finalmente o que é viver

Sabe, meu pai tem um problema
Ele vive sempre com uma garrafa e é isso aí
Ele diz que seu corpo está velho demais pra trabalhar
Mas seu corpo é jovial demais pra parecer dele mesmo
Quando mamãe se foi e o deixou
Ela queria mais da vida que ele podia dar
Disse que alguém iria cuidar dele
Então deixei minha escola e foi o que aconteceu

Você tem um carro rápido
Mas é rápido o suficiente pra nos fazer voar?
Temos de tomar uma decisão
Sair hoje à noite ou viver e morrer aqui

Então me lembro de quando dirigimos
Dirigimos o seu carro
Velocidade tão alta que eu parecia bêbada
As luzes da cidade sobre nós
E seu braço bem firme apoiado em meu ombro
E eu finalmente me sentia ali
E eu senti que poderia ser alguém
Ser alguém, ser alguém

Você tem um carro rápido
E nós viajamos pra nos entreter
Você ainda não tinha trabalho
Eu trabalhava num mercado no caixa
Sei que as coisas vão melhorar
Você vai achar um emprego e ser promovido
Vamos então sair desse abrigo
E comprar uma casa maior pra viver no subúrbio

Então me lembro de quando dirigimos
Dirigimos o seu carro
Velocidade tão alta que eu parecia bêbada
As luzes da cidade sobre nós
E seu braço bem firme apoiado em meu ombro
E eu finalmente me sentia ali
E eu senti que poderia ser alguém
Ser alguém, ser alguém

Você tem um carro rápido
Eu tenho um emprego que paga nossas contas
Você fica até as altas horas bebendo em bares
E vê mais os amigos que os próprios filhos
Eu sempre quis o melhor
E que talvez você e eu juntos poderíamos achá-lo
Eu não tenho planos, não vou a lugar nenhum
Então pegue seu carro rápido e continue a dirigir

Então me lembro de quando dirigimos
Dirigimos o seu carro
Velocidade tão alta que eu parecia bêbada
As luzes da cidade sobre nós
E seu braço bem firme apoiado em meu ombro
E eu finalmente me sentia ali
E eu senti que poderia ser alguém
Ser alguém, ser alguém

Você tem um carro rápido
Mas é rápido o suficiente pra nos fazer voar?
Temos de tomar uma decisão
Sair hoje à noite ou viver e morrer aqui

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Obrigado, Rio de Janeiro

Vista do Rio de Janeiro, a partir do terraço do
Botafogo Praia Shopping.

CHEGUEI AO RIO DE JANEIRO no dia vinte e quatro de dezembro, véspera de Natal. Eram 5h20 da manhã quando o avião parou por definitivo no Galeão. O piloto anunciou que o clima era nublado e a temperatura estava nem-lá-nem-cá, no meio termo que só o Rio consegue proporcionar.
Saí do avião e caminhei pelo aeroporto em direção ao local de bagagens, para esperar minha mala que fora despachada ainda em Natal, no Rio Grande do Norte. Enquanto o fazia, as placas indicavam “Bem-vindo ao Rio de Janeiro!” Meu coração batia cada vez mais rápido, sabendo que estaria em breve no local que mais sentia saudade.
Meu tio e meu primo foram me buscar. Chegaram alguns minutos depois do meu desembarque, o atraso fora fruto do fluxo de carros que não tem hora para começar ou acabar ali na região. Enquanto os esperava, reparei os detalhes que já me cativavam naquela manhã: o céu repleto de nuvens, os táxis estacionados com seus motoristas a oferecer transporte, pessoas à espera do BRT... Inúmeros detalhes que me causaram um olho cheio de lágrimas.
No caminho em direção à Irajá, a conversa no carro fluiu com naturalidade. Quais eram as novidades, como estava a vida e a família no Nordeste, como ia a Universidade e os estudos... O passeio (re)introdutório passou rápido, ou pelo menos tive essa sensação por conta do diálogo. No fim, antes mesmo de 6h, estava de volta ao meu Irajá.
Minha avó já estava acordada. Disse que mal conseguira dormir por conta da ansiedade pela minha chegada. Perguntou como foi o voo e respondi com a maior sinceridade que foi um dos piores que já tive. Tentei dormir, mas o assento não era confortável o suficiente para fazê-lo. Desisti da ideia e só fiquei a pensar durante as três horas de voo por cima de todo o Brasil. Tinha comigo a biografia de Charles Schulz, cartunista criador de Peanuts, minha tira favorita, e não consegui folhear mais que duas páginas durante todo o voo. Acho que a ansiedade pelo reencontro também me foi grande. Ansiedade boa, gostaria de deixar claro.
Fui à janela da sala admirar aquela vista que tanto gostava quando era pequeno. O parquinho que existia no centro do prédio, já não estava mais ali. No lugar dele, apenas matos. Questionei o que aconteceu e a explicação que minha tia, síndica do condomínio, me deu foi até que óbvia: “Todo mundo cresceu e os brinquedos ficaram parados. Foram enferrujando e enferrujando... Decidi retirá-los.” As mesas de jogos, três cercadas por quatro banquinhos, porém, continuavam ali. Um dos banquinhos ainda tortos, fruto do dia em que uma das mesas quebrou e caiu em cima dele, quando estávamos a brincar e dançar em cima dela. Algumas coisas haviam mudado, sim.
Depois do café-da-manhã, caminhei pelas ruas do bairro. Reencontrei de cara meus melhores amigos, Rodrigo e Jorge, e dei em ambos um dos abraços mais apertados que já dei em toda a vida. Aos poucos a ficha foi caindo. Juntos, caminhamos e conversamos e filosofamos sobre como estavam as coisas. Fui à praça que ficava algumas ruas acima da qual eu morei. Ali, o sentimento de nostalgia me invadiu. Nos meus últimos anos no Rio, aquele local me foi sagrado, onde, justamente com a companhia deste melhor amigo, passei horas e horas a questionar diversas situações que me estavam a acontecer. Dessa vez, ao passar no local, agradeci silenciosamente. Naquela época, não esperava quantas mudanças a vida iria me trazer.
Os dias seguintes foram de diversas saídas. Reencontrei minha namorada, Karen, dois dias depois da chegada. O lugar escolhido foi o Centro Cultural do Banco do Brasil. É um dos meus lugares favoritos em todo o Rio. Visitamos duas exposições naquele dia e ainda tivemos tempo de rever uma amiga, Raissa, que saía do trabalho, e então ficamos a conversar, primeiro na Praça XV, e então na Praça Mauá, outro dos meus lugares favoritos.
Entre idas e vindas, visitei lugares que amo de coração, como a Ilha de Paquetá e o Parque Lage, e descobri outros que durante meus vinte anos no Rio ainda não conhecia, como o Parque das Ruínas e o Museu de Arte Moderna. No Parque Lage fiz um piquenique com minha namorada. No Parque das Ruínas, comemoramos nosso aniversário de namoro. O Museu de Arte Moderna é meu novo lugar favorito para admirar o pôr-do-Sol no Rio. A Ilha de Paquetá sempre será um ótimo local para caminhadas leves. Outros lugares que amei rever foram a Quinta da Boa Vista — que agora tem um ar triste após um incêndio em setembro de 2018 atingir o Museu Nacional e destruir quase que completamente o edifício e levar consigo inúmeras coleções do acervo que o compunha —, alguns Shoppings da cidade — em especial o da Tijuca, que foi um dos meus pontos favoritos durante o fim do Ensino Médio em 2014 —, e as praias da Zona Sul — que possuem um tipo de campo magnético que me puxa e me anima, como se fosse um elétron querendo se aproximar do núcleo.
Revi muitas pessoas queridas durante essas férias Rio. Algumas me foram surpresa, me mostrando que não importa o tempo que passe, o laço criado não muda. Uma delas foi outro dos meus melhores amigos, Julio, que me fez companhia no dia em que decidimos jogar RPG em Ipanema. Outra pessoa foi a Rafaella, que conheci em 2014, justamente no Ensino Médio, e que, desde sempre tem estado presente em minha vida, entre curtidas e mensagens pelo Instagram. Katheleen também esteve presente, e ela foi uma das pessoas a quem pude me confessar sem ter medo ou vergonha do julgamento alheio, e que me foi de extrema importância durante períodos sombrios de minha vida. A Álex, conheci aqui no Rio Grande do Norte e ela fez o meu caminho inverso, está morando no Rio de Janeiro desde outubro do ano passado, e foi outra pessoa de extrema importância nos momentos de fragilidade. A lista não para por aqui: Beatriz, Anna, Sara, Samara e Cynthia — também do Ensino Médio —, Matheus e Gabriel — primos —, entre outras pessoas que encontrei pelas ruas do Rio.
Hoje, depois dos quarenta e cinco dias mais animadores, fico a refletir, com o sentimento de gratidão em meu peito, por cada momento que vivi, por cada lugar que visitei, por cada pessoa que reencontrei. Ir ao Rio nos finais de ano tem sido revigorante para mim. Me mostra minha evolução e meu crescimento. Acaba sendo um descanso depois de um ano inteiro cansativo. Faz com que o começo do novo ano seja leve e tranquilo. Recarrega as energias. Tudo por causa dos sentimentos que me inundam e me transbordam depois de todas as aventuras que o Rio me traz.

/ 13 fev 2020