domingo, 13 de março de 2022

A vida secreta de Stan Lee

Ele revolucionou os quadrinhos e virou um ícone da criação de super-heróis. Mas também acumulou rixas por não dar crédito aos parceiros de criação. Conheça o lado B do símbolo-mor da Marvel, que faria 100 anos em 2022.

Por Rafael Battaglia para a revista Superinteressante
18 de fevereiro de 2022, 07h43

Stan Lee, pelo traço de Thobias Daneluz.

Stanley Martin Lieber nasceu em 28 de dezembro de 1922, em Nova York. Era filho de Jack e Celia, imigrantes judeus que fugiram de uma Romênia assolada pela crise econômica e por uma onda de antissemitismo.
Consumidor voraz de qualquer tipo de mídia – tiras de jornal, programas de rádio, cinema… –, Stanley ganhou, como um dos primeiros presentes de sua mãe, um suporte de livros, para que pudesse ler enquanto comia. E na escola, participando de concursos de redação, descobriu o gosto pela escrita.
A família vivia com o orçamento apertado – o pai custava a conseguir empregos estáveis nos EUA da Grande Depressão dos anos 1930. Stanley, então, fazia todo tipo de bico: foi entregador de sanduíches, lanterninha de cinema e, mais em linha com seu talento, redator de obituários antecipados de celebridades.
Naquele começo do século 20, quadrinhos ainda eram vistos como uma arte de quinta categoria. O jogo só virou em 1938 com a HQ Action Comics #1 – a estreia do Superman. Essa revista mensal da National Allied Publications (futura DC Comics) inaugurou o gênero de super-heróis, alcançou milhões  em vendas e virou o mercado de cabeça para baixo.
Foi nesse cenário efervescente que Stan, ainda moleque, começou a trabalhar com quadrinhos. Mas sua entrada do ramo não foi exatamente por mérito. Foi nepotismo mesmo. Martin Goodman, chefão da Timely Comics (futura Marvel), era casado com uma de suas primas e deu um emprego ao garoto.
Goodman estava longe de ser um visionário. Empresário do ramo de distribuição de revistas, criava empresas de fachada para fugir de impostos e prezava pela quantidade, e não qualidade, dos seus produtos – se algo estava fazendo sucesso, bastava copiar. Com os super-heróis, não foi diferente. Em 1939, a Timely lançou a HQ Marvel Comics #1 com os primeiros heróis da casa, Namor e Tocha-Humana, e contratou quadrinistas para desenvolver histórias para a editora. Dentre eles, Jack Kirby e Joe Simon, que criaram o Capitão América, em 1940.
O primeiro cargo de Stan por lá foi como assistente de Joe Simon. Ele fazia entregas, apagava traços de lápis em artes finalizadas, pegava café. Quando as tarefas acabavam, ficava tocando flauta doce no escritório. A virada veio num dia qualquer de 1941. Simon, sobrecarregado, passou a Stan a tarefa de escrever uma história curta para o Capitão América. E ele arrebentou. Lee teve a ideia de o Capitão usar seu escudo como bumerangue (algo que desafia as leis da física, mas que virou a marca do herói). Na hora de assinar, preferiu a versão contraída de seu nome: “Stan Lee”. E não parou mais de escrever.
Enquanto o jovem dava seus primeiros passos, Kirby e Simon estavam revoltados com Goodman: o chefe não tinha dado a eles a porcentagem de lucro prometida (25%) das vendas dos gibis do Capitão. Passaram, então, a trabalhar escondidos para a rival – a National.
Não tinha como dar certo: a dupla logo foi descoberta e demitida. Bom para Lee, que, com apenas 19 anos, assumiu como editor da HQ e passou os meses seguintes escrevendo diversas histórias para a Timely.
Em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, Stan serviu o Exército redigindo materiais educativos. Em 1945, voltou para Nova York com uma ideia surpreendente: sair do ramo de quadrinhos. Não foi um surto momentâneo, mas sim algo que o acompanharia por toda a vida. “O engraçado é que eu nunca fui um leitor de quadrinhos”, diria mais tarde, em 1999. “Eu só escrevia.”
Nessa tentativa de virada profissional, Lee tentou começar um negócio de livros didáticos e fez trabalhos para rádios. Enquanto isso, passou a supervisionar cada vez mais os quadrinhos da Timely – e a escrever, de fato, cada vez menos. No final dos anos 1940, Goodman percebeu que valia mais a pena trabalhar com freelancers e mandou Stan demitir toda a redação.
Em 1947, o quadrinista conheceu a modelo inglesa Joan Clayton Boocock. Eles se apaixonaram e casaram poucos meses depois. Dessa união, em 1950, nasceu Joan Celia (ou, como ficou conhecida, JC). O nome foi uma homenagem à mãe de Stan, que morreu três anos antes. O casal teve ainda uma segunda filha, Jan, mas que não sobreviveu ao dia do parto.
Apesar das perdas, a família Lee teve uma vida estável nos anos 1950. Eles viviam numa casa espaçosa em Long Island, nos arredores de Nova York, e organizavam festas com frequência. Mas Stan seguia frustrado com o trabalho.
E, verdade seja dita, o mercado também não colaborava. Naquela década, críticos ao fenômeno das HQs diziam que elas eram as responsáveis pelo mau comportamento dos jovens – algo semelhante ao que acontecia com os discos de rock nessa mesma década.
O ápice da repressão foi em 1954, quando se instituiu um código de conduta para as revistas. As histórias não poderiam, por exemplo, mostar “sinais de violência exacerbada”. Como acontece em qualquer cenário de censura, a criatividade acabou tolhida. Os gibis de heróis perderam força e as vendas diminuíram.
Stan e a Timely então focaram em outros enredos, como faroestes e romances leves. Em 1958, Jack Kirby voltou para a editora. Mas o clima não poderia ser pior: um mau negócio de Goodman o forçou a contratar a distribuidora Independent News, que pertencia à National. Isso limitou a circulação da Timely, que acabou cortando 80% de sua produção.
As coisas só melhorariam em 1961, quando o tal código de conduta já não apitava (tem lei que pega, tem lei que não pega…). Durante uma partida de golfe, Goodman ouviu um executivo da National se gabar de um novo sucesso da editora, a Liga da Justiça. Então não pensou duas vezes: correu e mandou Stan criar um time de super-heróis. Nascia ali o Quarteto Fantástico, que chegaria às bancas em novembro de 1961 – mesmo ano em que a Timely mudou de nome para “Marvel”.
A HQ marcou o início da revolução da Marvel nos quadrinhos. Na história, Reed Richards, Ben Grimm e os irmãos Sue e Johnny Storm ganham poderes após uma tempestade cósmica e se tornam o Quarteto Fantástico. A história era inovadora: os personagens viviam brigando, e as cenas em que eles adquirem suas habilidades eram agonizantes – quase um filme de terror.
Tanto Stan quanto Jack Kirby, cocriador do Quarteto, contam versões diferentes sobre a origem do supergrupo. A mais consagrada é a de Lee, que diz ter feito toda a concepção dos personagens, enquanto Kirby cuidou só do visual. Kirby, por sua vez, afirmava ser responsável também por boa parte das histórias, não apenas das ilustrações. Essa questão se repete na avalanche de personagens que vieram depois: Hulk, Thor, Homem-Formiga, Homem de Ferro, os X-Men, Doutor Estranho e Homem–Aranha – no caso desses dois últimos a rusga pela primazia criativa foi com outro parceiro, o quadrinista Steve Ditko.
O cerne desse problema está no que ficou conhecido como “Método Marvel”, consolidado nos anos 1960. Normalmente, escritores entregam a ilustradores um roteiro bem detalhado da HQ, com enredo, diálogos e indicações do que vai entrar em cada quadrinho. Lee bolava sinopses das histórias e as entregava para Kirby, Ditko e outros artistas, que desenvolviam a trama a partir daí; Lee, por fim, adicionava os balões de diálogo.
Só que havia uma falha aí: o método escondia a dupla função dos desenhistas, que, ao desenvolver as histórias, também faziam as vezes de roteiristas. Para completar, a editora não tinha o hábito de registrar reuniões, esboços e outros bastidores das revistas. Prevaleceu, então, a narrativa de que Lee era o principal cérebro por trás das criações. A falta de crédito apropriado levou Ditko a deixar a Marvel em 1965 e a nunca mais trabalhar com Stan.

O fenômeno…

As histórias da Marvel chacoalharam a cultura pop. Os heróis, antes tratados como figuras divinas, eram agora mais humanos – e falhos. O Quarteto Fantástico retratava uma família disfuncional. Os X-Men funcionavam como uma analogia à segregação racial dos EUA. E Peter Parker era um quebrado com o aluguel atrasado. A identificação dos leitores foi automática – e as vendas explodiram.
A “revolução Marvel” passou a ser destaque em jornais, revistas e programas de rádio. Lee era o porta-voz da editora – outros artistas quase nunca eram mencionados. Ele se firmou como o carismático rosto da Marvel. Dava palestras em universidades e recebia na redação celebridades que eram fãs dos gibis. No escritório, era visto jogando golfe com copos no lugar dos buracos, e não raro subia nas mesas para imitar os movimentos que ele queria que os heróis fizessem nas páginas.
Seu maior trunfo foi a maneira de se comunicar com os leitores. Ele idealizou a criação de um fã–clube oficial da Marvel e batia ponto na seção de cartas das revistas. Ali, agradecia aos elogios, tirava dúvidas e narrava o dia a dia da redação – tudo isso em textos recheados de piadas, trocadilhos e que terminavam com “Excelsior!” (“sempre em frente”, em latim), seu lema de vida. O que empresas fazem hoje nas redes sociais, tentando se aproximar do público, Stan já tirava de letra.

… E o marasmo

Em 1968, Goodman se aposentou e Stan virou presidente da Marvel. Foi também o ano em que seu pai, Jack, morreu. Os motivos nunca foram esclarecidos (uma hipótese é a de que ele teria cometido suicídio devido a um erro médico na dosagem de antidepressivos). Stan se sentiu culpado pela tragédia e se afastou da família – incluindo de seu irmão, Larry, que escreveu e desenhou histórias para a Marvel até 2018. As conversas com ele eram, quase sempre, restritas a motivos profissionais.
Nos anos 1970, Stan se afastou do desenvolvimento das histórias. Sem Kirby, que trocou a Marvel pela DC, Lee investiu em publicações de gosto duvidoso, como uma revista de celebridades comandada pela esposa, Joan. Nenhuma das empreitadas fora do mundo dos super-heróis vingou.
Em 1980, Stan e a família se mudaram para Los Angeles. O plano era desenvolver filmes e séries em Hollywood por meio da divisão Marvel Productions. Mas, mesmo que Stan fosse ovacionado por fãs de HQs, ele ainda era um desconhecido em meio aos figurões do show business. Encontros com artistas e chefões de estúdio raramente rendiam, e suas tentativas de criar live actions da Marvel para o cinema não emplacavam.
Em 1994, Stan assinou um contrato vitalício com a Marvel. Aos 72 anos (e morando do outro lado do país há 14), ele já não apitava mais nas decisões da editora, mas continuou a representar a marca em eventos e entrevistas. Só que as coisas logo se complicaram. No ano seguinte, investimentos errados do chefão da Marvel, Ron Perelman, fizeram a empresa entrar com um pedido de falência, com quase US$ 1 bilhão em dívidas.
Para sair da pindaíba, a companhia fez um saldão dos direitos de seus personagens mais famosos para estúdios de Hollywood – pagando pouco, pelo jeito, eles topavam a ideia de pensar em filmes com os heróis da Marvel. A companhia precisou também renegociar contratos – como o de Lee, que ganhava US$ 1 milhão para, bem… não fazer nada. O novo acordo oferecia US$ 250 mil anuais, mas Stan recusou. O valor não dava conta do estilo de vida que ele havia adquirido – Joan e a filha eram consumidoras compulsivas, o que sempre forçou Stan a continuar trabalhando.

Péssimos negócios

Stan e a Marvel chegaram a um acordo no final de 1998, mas o desgaste o fez considerar novos voos. Ele criou a empresa Stan Lee Media (SLM) para desenvolver produtos para cinema, TV e internet (ainda uma novidade).
O parceiro de Stan nessa empreitada foi Peter Paul, um advogado que conheceu em eventos beneficentes em Los Angeles. Com a ajuda de Paul, a SLM entrou na bolsa de valores, teve mais de 140 funcionários e US$ 300 milhões em valor de mercado (US$ 100 milhões a mais que a Marvel).
Mas tudo foi por água abaixo. No final de 2000, as ações despencaram e quase todos os funcionários foram demitidos. Mais tarde, descobriu-se que Paul era um golpista, que divulgava relatórios falsos para inflar as ações da SLM. Acabou fugindo para o Brasil para escapar dos processos, mas foi preso pela Interpol.
Stan e alguns remanescentes da SLM, então, fundaram a POW! Entertainment numa tentativa de juntar os cacos. Fundada em 2001, ela atirou para todos os lados. Desenvolveu animações (Stripperella, sobre uma stripper que combate o crime), cosméticos (uma colônia do Stan Lee vendida a US$ 25), reality shows e mais uma série de projetos que nunca decolaram – como um desenho em parceria com a Playboy. A POW! existe até hoje, mas nunca lançou um hit.

Sanguessugas

Os últimos anos de Stan Lee foram conturbados. Por um lado, ele se tornou mais famoso do que nunca com suas participações em filmes e séries da Marvel (foram 60). E era o centro das atenções quando aparecia nos eventos de estreia dos longas – embora nunca ficasse até o final para assisti-los.
Mas as aparências da vida pública estavam longe da verdade. Ingênuo, Stan acabou cercado de interesseiros. “Um por um, indivíduos de moral instável foram entrando na vida dele, prometendo riqueza, desde que ele não fizesse muitas perguntas a respeito de como isso seria feito”, escreve Abraham Riesman na biografia Invencível: a ascensão e a queda de Stan Lee, lançada em 2021.
Um desses indivíduos foi Mark Anderson, um segurança que virou amigo de Lee e sugeriu que o escritor poderia lucrar com suas aparições públicas. Junto a ele, Lee passou a cobrar centenas de dólares por autógrafo – e milhares por participações em convenções (mais tarde, descobriu-se que Anderson chegou a roubar objetos pessoais de Lee).
Mas talvez o relacionamento mais desgastante de Stan tenha sido com sua filha. JC Lee sempre gerou preocupação: tinha problemas com álcool e vivia às turras com os pais – geralmente, para pedir mais dinheiro. No 64º aniversário de JC, insatisfeita com um presente que ganhou de Lee (um carro), agarrou o pai pelo pescoço.
Stan morreu no dia 12 de novembro de 2018, aos 95 anos, após uma parada cardíaca. No final, sua vida foi tão imperfeita quanto a dos personagens que o consagraram – e quanto a de cada um de nós. Com uma diferença: Stan foi mestre em cultivar a própria imagem. A p0nto de suas aparições-relâmpago na tela, em suas últimas décadas de vida, causarem tanto fascínio quanto os heróis da mitologia contemporânea que deu ao mundo.

domingo, 6 de março de 2022

Do rádio à TV e, então, às tiras de jornal: Dragnet

Os atores Jack Webb e Harry Morgan.

DRAGNET FOI PROVAVELMENTE o motivo pelo qual seriados como C.S.I. [C.S.I.: Investigação Criminal], Law & Order [Lei & Ordem], Criminal Minds [Mentes Criminosas], entre vários outros seriados do gênero “investigação forense”, hoje possuam fama. Sua primeira versão foi lançada para o rádio, indo ao ar entre 1949 e 1957 na rádio NBC. O criador da série, Jack Webb, teve a ideia de lançar um programa que trouxesse um foco grande no dia a dia dos detetives e investigadores, mostrando como o trabalho policial tinha o “repetitivismo” e a penosidade, mas também os perigos e os dramas derivados de cada caso com o qual a força de segurança tinha de lidar. Funcionou.
Webb prezava pelo realismo da série, e esse foi o principal fator pelo seu sucesso. Ele participava ativamente de visitas à delegacias, e até participou de cursos da Academia de Polícia só para aprender termos e detalhes que ele poderia vir a utilizar em seu personagem, o sargento Joe Friday. Webb chegou a incluir detalhes reais como os nomes de oficiais e chefes do Departamento de Polícia de Los Angeles — cidade em que a série era ambientada.
Mas talvez o que mais marcou a série foi seu anúncio inicial, feito por George Fenneman em uma voz única: “Senhoras e senhores: a história que vocês irão ouvir é verdadeira. Somente os nomes foram alterados para proteger os inocentes.” A introdução era seguida de passos e da voz de Webb explicando as situações iniciais: “Terça-feira, dia 4 de julho. Fazia frio em Los Angeles. Estávamos trabalhando num caso de assassinato. Meu parceiro é Ben Romero. O chefe dos detetives é Ed Backstrand. Meu nome é Friday.” Todos os episódios possuíam o mesmo começo, apenas alterando datas, climas e alguns detalhes de descrição. Junto a tudo isso, o tema de Dragnet, Danger Ahead! [“Perigo à Frente!”] era escutado — tema este que foi problema de tribunal, tendo Walter Schumann, o compositor da música, sido acusado de plágio pelos publishers do filme The Killers (1946). De acordo com os publishers, Schumann tinha visitado o estúdio de gravação do filme, e acabou ouvindo uma parte do tema, gravado por Miklós Rózsa. A solução veio com um acordo que dividia os direitos do tema de Dragnet entre Schumann e os publishers.


O SUCESSO DE DRAGNET no rádio foi tão grande que, dois anos após sua estreia no rádio, o programa migrou para a TV. Filmado nos Estúdios Walt Disney, a série de TV elevou Dragnet a um novo patamar. Mesmo em preto e branco, agora era possível ver todas as ações e reações narradas no rádio. Além disso, a série trazia as mesmas identidades que já usava em áudio, além dos mesmos atores. A mesma NBC foi a produtora responsável.
Uma curiosidade interessante de se notar é que Webb não queria atuar na TV: ele chegou a recusar o papel de Joe Friday, indicando inclusive um ator para tal — o famoso Lloyd B. Nolan —, mas acabou sendo convencido pela própria NBC a realizar o papel, afinal já era conhecido pelo público do rádio e, talvez, poderia ocorrer uma falta de identificação por parte do mesmo caso a mudança fosse feita.
A série foi longa. Com um total de 276 episódios, distribuídos em 8 temporadas, ela saiu, ano após ano, entre 1951 e 1959. E essa foi apenas a primeira versão. Outras três viriam — a segunda, lançada entre 1967 e 1970, teve 4 temporadas e 98 episódios; a terceira (nomeada de O Novo Dragnet) saiu entre 1989 e 1990, com duas temporadas de 26 episódios cada; e a última e mais recente, L.A. Dragnet, em 2003, teve somente duas temporadas, mas com apenas 22 episódios (sendo que os dois últimos nem foram ao ar nos EUA, pois a série foi cancelada prematuramente). Porém, nenhuma das subsequentes conseguiu o mesmo sucesso da primeira versão — mesmo com a segunda tendo o mesmo Jack Webb voltando ao seu papel clássico.

Imagem de divulgação da série de 1967, com
os atores Harry Morgan e Jack Webb.

O pôster de Dragnet, o Filme com
Dan Aykroyd e Tom Hanks.

Dragnet também foi parar nas telas de cinema em três ocasiões distintas: 1954, 1966 e, finalmente, 1987. Esta última foi a mais famosa: uma comédia do tipo buddy cop — estilo que traz duas pessoas com diferentes personalidades tendo de agir juntas em prol da resolução de um crime — com ninguém mais, ninguém menos que Dan Aykroyd como Joe Friday (que, aqui, é o sobrinho do Friday da série de TV) e Tom Hanks como Pep Streebek, parceiro de Friday. Rendeu 67 milhões de dólares de bilheteria mundial.

MAS O NOME DRAGNET não parou por aí. E foi em 23 de junho de 1952 que a tira baseada na série deu as caras nas páginas dos jornais dos Estados Unidos. Três artistas passaram pela tira: Joe Sheiber, que ficou até setembro daquele ano; Bill Ziegler, que assumiu logo após, mas não assinou seu nome até março de 1953, ficando na tira até janeiro de 1954; e Mel Keefer, que levou a tira até o fim, em maio de 1955. Os roteiros ficaram por conta de Jack Robinson, um dos roteiristas da série de TV.

A primeira tira de Dragnet, datada de 23 de junho de 1952.
Roteiro por Jack Robinson e arte de Joe Sheiber.
Tradução e letreiramento por Lucas Cristovam.

A tira, assim como a série de TV, também seguiu os mesmos passos do programa de rádio, e, a cada começo de arco, trazia os mesmos dizeres iniciais das versões já conhecidas. E ela teve sucesso em adaptar perfeitamente para os quadrinhos os detalhes que trouxeram sucesso ao rádio e à TV: todos os diálogos em sua forma eram semelhantes e as narrativas feitas por Friday estavam presentes como quadros com uma fonte de máquina de escrever. A arte da tira, simples e direta, também valorizava demais o todo — apesar de fontes dizerem que a mudança de artistas se deu porque Webb queria um que o desenhasse o mais “fiel e bonito” o possível, como ele “merecia ser desenhado”; de todos os artistas que passaram pela tira, Mel Keefer foi o que mais se aproximou disso.
Mesmo curta, a tira teve uma boa quantidade de histórias. Foram mais de 20 arcos durante os três anos de vida.

FELIZMENTE, É POSSÍVEL encontrar o programa de rádio, a série de TV e as tiras de jornal online. Os dois primeiros encontram-se facilmente no YouTube — 308 dos 314 episódios da série de rádio estão neste link, enquanto que 24 episódios de variadas temporadas da série TV estão neste link. A tira de jornal é encontrada no blog Newspaper Comic Strips, onde a contribuição foi feita por este que lhes escreve. Reuni todas as tiras que pude encontrar online e disponibilizei a série completa ao dono do blog — cujo objetivo é distribuir tiras de jornais dos mais variados anos para download, um blog importantíssimo para manter viva a memória desta mídia tão querida por mim.
Longa vida ao sargento Joe Friday e a Dragnet!

Lucas Cristovam, 18 de fevereiro de 2022,
Parnamirim, Rio Grande do Norte, Brasil.