domingo, 24 de janeiro de 2021

"Everybody's Changing", de Keane


PARTE DO ÁLBUM DE ESTREIA da banda Keane, Hopes and Fears (2004), a canção Everybody's Changing fez sucesso após não ter se saído muito bem no começo. Saindo da 122ª posição na UK Singles Chart, após seu relançamento, subiu para a quarta música mais ouvida no Reino Unido.
De acordo com Tim Rice-Oxley, cantor da banda e um dos autores da música, o significado por trás da letra vem de acontecimentos pessoais à banda:

"Everybody's Changing é, definitivamente, uma música sobre estar cansado da vida. Eu a escrevi numa época em que estávamos para baixo. Tinhamos desistido do sonho de ir para Londres e tivemos de nos retirar para Battle. Estávamos nos sentindo isolados como uma banda. Todos os nossos amigos estavam trilhando seus caminhos pelo mundo e a gente estava de volta à estaca zero."

O mesmo foi dito por Richard Hughes, baterista da banda e também co-autor:

"A música é sobre tentar entender quem é você nesse mundo, enquanto as pessoas ao seu redor estão seguindo em frente e fazendo coisas diferentes. Tim a escreveu [...] enquanto estávamos em Battle sem saber pra onde ir e nos perguntando se estávamos realmente fazendo a coisa certa."

Aparentemente, a canção foi certeira. Em agosto de 2006, a revista The Sun elegeu a canção como uma das 100 Melhores Músicas de Todos os Tempos — deixando-a na posição 79.
Abaixo, além do vídeo da canção, deixo a letra traduzida.


Keane, "Todos Estão Mudando"

Você diz que anda por sua própria terra
Mas quando penso nisso
Não consigo imaginar como
Você sente dor, você se despedaça
E eu vejo a dor em seus olhos
Diz que todos estão mudando
E eu não sei o motivo

Tão pouco tempo
Tente entender que eu estou
Tentando me mexer pra me manter no jogo, estou
Tentando me manter acordado e lembrando meu nome, mas
Todos estão mudando
E eu não sinto o mesmo

Você se foi daqui
E em breve vai sumir
Desaparecendo na bela luz
Porque todos estão mudando
E eu não me sinto certo

Tão pouco tempo
Tente entender que eu estou
Tentando me mexer pra me manter no jogo, estou
Tentando me manter acordado e lembrando meu nome, mas
Todos estão mudando
E eu não sinto o mesmo

Tão pouco tempo
Tente entender que eu estou
Tentando me mexer pra me manter no jogo, estou
Tentando me manter acordado e lembrando meu nome, mas
Todos estão mudando
E eu não sinto o mesmo

Todos estão mudando
E eu não sinto o mesmo

domingo, 17 de janeiro de 2021

Do dia em que quase fui preso em minha primeira vez dirigindo

PÓS-NATAL. MEU IRMÃO Matheus, que mora fora, havia passado o feriado conosco aqui. Ele não mora tão longe assim, da casa dele para cá são aproximadamente vinte minutos, mas o local onde moramos agora não conta com transporte público acessível — escrevo "acessível" porque o único ônibus que passa aqui vem de trinta em trinta minutos. Portanto, meu irmão quase sempre retorna utilizando um destes aplicativos de transporte particular.
— Mano, aproveita que você está recém-apto pra dirigir e me leva até a entrada do condomínio de carro?
Nossa casa é a quadragésima quarta desde a entrada — umas sete ou oito quadras desde o começo do conjunto. Caminhar daqui até a saída exige algumas gotas de suor.
Avisei ao pessoal que iria levá-lo, peguei a chave e ouvi minha mãe:
— Eu vou com vocês. Chegando na portaria, a gente troca e eu levo você em casa, Matheus.
Meu pai prontamente a interrompeu:
— Pode ficar descansando na rede, meu amor. Eu levo o Matheus em casa. Mas você ainda vai até a portaria, Lucas.
Entrei no carro. Fiz todos os ajustes necessários para dar a partida no veículo e, de quebra, ainda tomei a liberdade de escolher a trilha sonora que acompanharia o curto trajeto.
Liguei o veículo e saímos. Chegando à portaria, preparei-me para parar o carro antes da saída quando ouvi meu pai:
Pode passar pelo portão. No estacionamento externo, trocamos de lugar.
E assim foi feito. Mas não paramos no estacionamento externo para a tal troca.
— Quer saber, Lucas? Segue em frente. Se a gente ver alguma blitz, paramos antes e fazemos a troca.
Um misto de nervoso e adrenalina me possuiu e senti uma leve empolgação: finalmente estava dirigindo pra valer! Nada de autoescola e suas limitações. Agora era eu e eu mesmo — obviamente, com tudo que aprendi na autoescola.
Continuamos o trajeto até chegar à avenida principal. Meu pai me ditava regras básicas sobre a conduta no volante e eu sentia a ironia do momento: estávamos claramente infringindo várias leis, mas ainda assim eu dirigia com prudência e supervisão.
Decidimos cortar caminho utilizando ruas traseiras. Ao virar à esquerda para entrar nessas ruas, um susto: um carro de Polícia grande, daqueles que carregam pessoas atrás, saía de uma das ruas que vinham à frente.
— Você vai dirigir como quem já dirige há anos, Lucas. Basta seguir naturalmente.
Pelo retrovisor, vi meu irmão rir, mas ele também aparentava nervosismo. Abraçava sua mochila contra o corpo, como se há qualquer momento fossem lhe arrancar os pertences.
Segui o carro de Polícia por alguns bons quilômetros. Meu pai sugeriu evitarmos um cruzamento que havia à frente utilizando uma pequena curva esquerda-direita e foi isso o que fiz. Mas, do mesmo cruzamento à frente, o carro de Polícia ressurgira. E, dessa vez, me dava passagem. Era minha vez de ser seguido.
Eu sentia gotas e gotas de suor escorrerem pelo corpo, mas mantive a postura de piloto habilidoso.
À frente, porém vimos o motivo daquele carro de Polícia que agora nos seguia estar ali, existindo.
— Pai, aquele é outro carro de Polícia?
Meu pai demorou a responder.
— Filho... — ele finalmente disse, dando mais uma pausa antes de continuar. — Reduz a velocidade, diminui o farol e liga a luz interna.
Fiz tudo de forma rápida e acho que ainda coloquei o farol em posição errada antes de acertar o "baixo" no painel do carro. Paramos por completo.
O carro que nos seguia parou ao nosso lado, e dele saíram quatro policiais armados. O primeiro parou de frente para nós. Um segundo foi pro lado do meu pai e nos deu boa-noite.
— Boa noite — respondeu meu pai. — Podemos ficar aqui ou é melhor que saiamos daqui?
— Podem ficar. Estamos finalizando uma averiguação.
No outro carro que já estava parado, um policial conferia documentos de dois homens que estavam numa moto. Um outro policial andava com uma lanterna na mão, iluminando os canteiros em busca de alguma possível coisa que pudesse ter sido jogada fora.
Eu tentava manter o controle ao volante. Fingia curtir a música que estava tocando, mas confesso que não fazia ideia do que estava tocando naquela hora. Em minha cabeça, eu apenas repetia pra mim mesmo:
Eu não acredito que vamos ser presos justamente em minha primeira saída de carro. Eu nem trouxe documento algum! A ideia era ir ate a portaria e nada mais! E agora eu vou ser preso e meu pai também vai ser preso e meu irmão que não tem nada a ver com isso também vai ser preso!
Não sei ao certo quanto tempo se passou, mas parecia uma eternidade infinita. (Tenho a plena consciência do pleonasmo aqui aplicado, mas é para reforçar que o tempo parecia ter congelado mesmo durante tudo que se passou.) E, de repente, os dois homens da moto ligaram o veículo e saíram. Tinham sido liberados. Os quatro policiais armados entraram no carro ao nosso lado, deram mais um boa-noite e saíram de ré. O carro que fechava a rua à frente também saiu, seguindo o outro.
Engatei a primeira marcha e saí devagar. Esqueci de mudar a marcha por um tempo, depois. Precisava respirar um pouco.
— Gente, eu tô pingando de suor.
Risos vieram do meu pai e do meu irmão. Eu acabei rindo junto. Meu pai disse a frase que resumiu todo o passeio:
— Eles procuravam os infratores e não faziam ideia de que eles estavam bem em sua frente mesmo, mas não numa moto e sim num carro.
Assim que deixei meu irmão em sua casa, saí do volante pra me despedir dele e foi a deixa. Eu não traria o carro de volta de jeito algum.
E desde então não dirigi mais. Ainda preciso buscar minha carteira de motorista — que está pronta, mas precisa de agendamento prévio pra retirada.
Pra uma primeira vez ao volante, claramente não me esquecerei dessa aventura...

Lucas Cristovam, 11 de janeiro de 2021,
Parnamirim, Rio Grande do Norte, Brasil.