sexta-feira, 4 de setembro de 2015

"E não sobrou nenhum", por Agatha Christie

Vocês têm um livro preferido?
Eu tenho um, e é dele que venho falar agora. O livro E não sobrou nenhum [1], de Agatha Christie. Se tem um livro que me fez sentir medo, mas ao mesmo tempo me fazia devorar as páginas, é este livro.

Capa do livro de bolso lançado pela Globo de Bolso.

O livro fala sobre 10 pessoas aleatórias, que nunca se conheceram antes. Estas pessoas recebem convites - de alguém que assina como U. N. Owen [2] - para visitar uma ilha, chamada Ilha do Soldado [3]. Durante o jantar dessas pessoas, um gramofone anuncia que haverá um julgamento, para o crime de cada uma das 10 pessoas ali presentes (crimes que elas cometeram no passado mas foram absolvidas ou nunca julgadas). Há também um poema, estilo "Cinco Patinhos" da Xuxa, que conta a história de 10 soldados: a cada verso, um soldado morre de uma forma diferente. E, na mesa principal da casa, há 10 estátuas de soldadinhos.
A partir daí, eu diria que o livro virou um filme de terror. As 10 pessoas chamadas para a casa começam a morrer, uma por vez, da mesma forma que o poema narra a história dos 10 soldados. Quero dizer, não chega a ser exatamente da mesma forma, mas as semelhanças são incríveis. A cada morte, uma estátua de soldadinho desaparece...

As personagens do filme de 1945 reunidas na sala principal da casa.

O terror aumenta pois ninguém do livro sabe quem está matando todo mundo. E a forma que a Agatha escreve faz com que você se sinta na ilha, sendo uma 11ª pessoa, acompanhando tudo que acontece, além de, é claro, ficar tentando descobrir quem é o assassino: seria algum dos dez convidados? Seria alguém de fora? Algum evento sobrenatural?
O final do livro é mais chocante ainda. A resposta para todo o mistério se encontra em uma mensagem dentro de uma garrafa, sendo que esta só é encontrada anos depois do caso ter sido divulgado pela mídia. Nem a polícia, nem detetive algum conseguiu resolver este mistério. Me pergunto se Hercule Poirot, outra criação de Christie, conseguiria...
A seguir, deixo o poema que dá o pontapé inicial das mortes da trama:

"Dez soldadinhos saem para jantar, a fome os move;
Um deles se engasgou, e então sobraram nove.
Nove soldadinhos acordados até tarde, mas nenhum está afoito;
Um deles dormiu demais, e então sobraram oito.
Oito soldadinhos vão a Devon passear e comprar chiclete;
Um não quis mais voltar, e então sobraram sete.
Sete soldadinhos vão rachar lenha, mas eis
Que um deles cortou-se ao meio, e então sobraram seis.
Seis soldadinhos com a colmeia, brincando com afinco;
A abelha pica um, e então sobram cinco.
Cinco soldadinhos vão ao tribunal, ver julgar o fato;
Um ficou em apuros, e então sobraram quarto.
Quatro soldadinhos vão ao mar, um não teve vez;
Foi engolido pelo arenque defumado, e então sobraram três.
Três soldadinhos passeando no zoo, vendo leões e bois,
O urso abraçou um, e então sobrou dois.
Dois soldadinhos brincando ao sol, sem medo algum;
Um deles se queimou, e então sobrou só um.
Um soldadinho fica sozinho, só resta um;
Ele se enforcou, e não sobrou nenhum."

É sério, eu morro de medo de qualquer coisa relacionada a terror ou suspense, mas este livro conseguiu me prender de uma forma incrível, tanto que eu li numa viagem de ida de ônibus (incríveis 1h30). Eu já tinha lido outros livros da Agatha antes de passar por este. Após a leitura, ele não só se tornou meu livro preferido como também tornou Agatha Christie a melhor autora, na minha opinião.

Agatha Christie, a Rainha do Crime.

O livro teve diversas adaptações, para teatro, rádio, cinema, quadrinhos, e até um jogo de videogame!
E não sobrou nenhum, 400 páginas, lançado aqui no Brasil pela Editora Globo, é o livro mais vendido de Agatha Christie, e também é um dos maiores best-sellers de todos os tempos. Você pode estar comprando o livro clicando neste link.

_____
Notas:

[1] O título original deste livro é Ten Little Niggers — no Brasil, foi traduzido como O Caso dos Dez Negrinhos. Todos os termos foram alterados para "soldado", após o livro sofrer acusações de racismo.

[2] Pronuncia-se Unknow (/ân-nôu/). Do inglês, "desconhecido".

[3] "Ilha do Negro" se tornou "Ilha do Soldado".

Nenhum comentário:

Postar um comentário