domingo, 14 de junho de 2020

Minha história com as tiras em quadrinhos

JÁ NÃO É segredo que eu amo quadrinhos. Praticamente em todos os cantos que vou, tenho um em mãos, e sempre estou a ler durante intervalos livres. Dentre os diferentes gêneros de quadrinhos, para mim, um se destacou: as tiras em quadrinhos.
Leio quadrinhos desde meus 6 anos – comecei como a maioria dos brasileiros, com a Turma da Mônica, criação de Mauricio de Sousa. Nos gibis, sempre havia uma tira na última página, junto ao expediente da edição. Mas ela não me chamava tanta atenção.
Mais à frente, quando cheguei ao Ensino Fundamental, recebi meu primeiro livro de Português e, folheando, encontrei outros inúmeros quadrinhos que desconhecia. A Turma da Mônica estava no meio, mas também figuravam Hägar, o Horrível (Hägar, the Horrible, de Dik e Chris Browne), Calvin e Haroldo (Calvin and Hobbes, de Bill Watterson), Recruta Zero (Beetle Bailey, de Mort Walker), Zezé & Cia. (Hi & Lois, de ambos Dik Browne e Mort Walker), O Mago de Id (The Wizard of Id, de Johnny Hart e Brant Parker), Garfield (de Jim Davis), Crock e os Legionários (Crock, de Bill Rechin e Brant Parker) e Minduim (Peanuts, de Charles Schulz), para nomear apenas algumas. Peanuts viria a se tornar a minha tira de humor favorita.

Minduim.

Hägar, o Horrível.

O Mago de Id.

Eu recortava essas tiras e então as colava em um caderno que possuía – colecionei inúmeras tiras por anos e anos. Lembro de ter uma biblioteca na minha escola e a moça que cuidava dela possuía alguns jornais antigos com páginas de tiras. Foi minha fonte secundária da coleção. A primária eram os livros usados de Português que eu ia encontrando pelo caminho.
Comecei a copiar alguns desenhos. O Mago de Id, na época, era a tira que eu mais admirava, pelas piadas – inclusive, fiz algumas tiras próprias usando as personagens. Com relação ao traço, Hägar, o Horrível e Zezé & Cia. eram minhas favoritas – certo dia, decidi copiar os personagens de Zezé & Cia., e foi assim que nasceu o meu primeiro personagem, Hércules, que eu desenhei em uma tira de humor, com homenagens às pessoas ao meu redor.
Algum tempo depois, minha segunda criação surgia: Os Três Reis Magos, tira também de humor que teve inclusive um livro lançado na mesma escola, com apoio da mesma moça da biblioteca. Bem capaz que ele ainda esteja por lá...

Zezé & Cia.

A “mudança” veio com data até hoje lembrada: 14 de agosto de 2012. Eu descobri um site na internet que possibilitava a leitura de todas essas tiras que eu tanto amava. Entre os títulos, um em específico me chamou a atenção: Mandrake, o Mágico (Mandrake, the Magician, de Lee Falk e outros). “Uma tira de humor com um mágico!”, essa foi a minha exata reação. Ao abrir a tira, porém, logo mudei o comportamento.

A primeira tira de Mandrake, o Mágico que li,
publicada no dia 14 de agosto de 2012.

“Qual é a piada? Não entendi a graça.” Afinal, a tira mostrava um homem usando uma camisa de “oncinha” segurando um laço enquanto pensava “Tenho apenas uma chance... Queria que esse laço fosse maior...” e, no quadro seguinte, uma legenda narrava que “o parceiro do ladrão entrava...” Entrava aonde? O que está acontecendo aqui?
Decidi usar o bom e velho Google e pesquisar Mandrake, o Mágico. “Minha nossa, existem tiras seriadas, histórias longas divididas em ‘capítulos’ que devem ser acompanhados diariamente, como uma novela.” Isso, para mim, foi algo de uma imensidão imensurável. Passei o resto do dia procurando mais sobre essas tais tiras seriadas que eu acabara de descobrir sobre.
E aconteceu que existiam milhares e milhares de tiras seriadas. Até Popeye (de E.C. Segar), que eu adorava assistir a animação quando criança, era uma. E ainda existiam categorias: O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spider-Man, de Stan Lee e outros), O Fantasma (The Phantom, de Lee Falk e outros), Princípe Valente (Prince Valiant, de Hal Foster) e Brick Bradford (de William Ritt e Clarence Gray) se encaixam nas tiras de aventura; Juíz Parker (Judge Parker) Rex Morgan M.D. e Apartamento 3-G (Apartment 3-G, todas de Nicholas Dallis e outros) são as tiras de drama; Rip Kirby (de Alex Raymond), Dick Tracy (de Chester Gould), Agente Secreto X-9 (Secret Agent X-9, de Dashiel Hammet e outros) e Rádio Patrulha (Radio Patrol, de Eddie Sullivan e Charlie Schmidt) entram na categoria de tiras policiais; entre inúmeros outros subgêneros.

Brick Bradford.

O Espetacular Homem-Aranha.

Dick Tracy.

Rádio Patrulha.

Rip Kirby.

Passei a colecioná-las digitalmente, realizando o download todos os dias de alguns títulos que eu gosto muito. Mandrake, o Mágico e O Espetacular Homem-Aranha foram as duas primeiras que eu baixei – infelizmente ambas chegaram ao fim: Mandrake com a aposentadoria do autor Fred Fredericks; Homem-Aranha com o cancelamento da tira pela Marvel. Rip Kirby, Brick Bradford e Rádio Patrulha se tornaram minhas favoritas – possuo praticamente todos os episódios das três tiras.
Também passei a estudá-las. Fiquei surpreso ao compreender a diferença gigante que as tiras possuem em relação aos gibis: construção lenta de universo, avanços curtos numa história, diferentes maneiras de expressar uma ideia sem parecer algo repetitivo, e, principalmente, a ideia da paciência no aguardar a continuação, da persistência em manter a curiosidade viva e a ansiedade sob controle para ler o que vem depois.
E decidi criar a minha própria tira seriada. Nick Felix, Detetive, mantenho um blog onde posto as tiras periodicamente lá. Aplico muito desse conhecimento que obtive com os estudos na minha própria tira, então ela é basicamente um experimento – que me mostrou que qualquer um é capaz de escrever e desenhar sua própria tira, basta querer e estudar.
As tiras se tornaram um baita refúgio em minha vida desde meus primórdios. E hoje eu sou grato por ter descoberto tanta coisa a respeito!

Lucas Cristovam, 14 de junho de 2020,
Parnamirim, Rio Grande do Norte, Brasil.

2 comentários:

  1. Lucas, belo relato. Obrigado por compartilhá-lo conosco. Muito sucesso na sua tira diária. Persevere sempre para atingir seus objetivos.

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  2. É linda e admirável essa sua paixão por tiras. Te desejo sucesso nas suas produções!

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