quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Obrigado, Rio de Janeiro

Vista do Rio de Janeiro, a partir do terraço do
Botafogo Praia Shopping.

CHEGUEI AO RIO DE JANEIRO no dia vinte e quatro de dezembro, véspera de Natal. Eram 5h20 da manhã quando o avião parou por definitivo no Galeão. O piloto anunciou que o clima era nublado e a temperatura estava nem-lá-nem-cá, no meio termo que só o Rio consegue proporcionar.
Saí do avião e caminhei pelo aeroporto em direção ao local de bagagens, para esperar minha mala que fora despachada ainda em Natal, no Rio Grande do Norte. Enquanto o fazia, as placas indicavam “Bem-vindo ao Rio de Janeiro!” Meu coração batia cada vez mais rápido, sabendo que estaria em breve no local que mais sentia saudade.
Meu tio e meu primo foram me buscar. Chegaram alguns minutos depois do meu desembarque, o atraso fora fruto do fluxo de carros que não tem hora para começar ou acabar ali na região. Enquanto os esperava, reparei os detalhes que já me cativavam naquela manhã: o céu repleto de nuvens, os táxis estacionados com seus motoristas a oferecer transporte, pessoas à espera do BRT... Inúmeros detalhes que me causaram um olho cheio de lágrimas.
No caminho em direção à Irajá, a conversa no carro fluiu com naturalidade. Quais eram as novidades, como estava a vida e a família no Nordeste, como ia a Universidade e os estudos... O passeio (re)introdutório passou rápido, ou pelo menos tive essa sensação por conta do diálogo. No fim, antes mesmo de 6h, estava de volta ao meu Irajá.
Minha avó já estava acordada. Disse que mal conseguira dormir por conta da ansiedade pela minha chegada. Perguntou como foi o voo e respondi com a maior sinceridade que foi um dos piores que já tive. Tentei dormir, mas o assento não era confortável o suficiente para fazê-lo. Desisti da ideia e só fiquei a pensar durante as três horas de voo por cima de todo o Brasil. Tinha comigo a biografia de Charles Schulz, cartunista criador de Peanuts, minha tira favorita, e não consegui folhear mais que duas páginas durante todo o voo. Acho que a ansiedade pelo reencontro também me foi grande. Ansiedade boa, gostaria de deixar claro.
Fui à janela da sala admirar aquela vista que tanto gostava quando era pequeno. O parquinho que existia no centro do prédio, já não estava mais ali. No lugar dele, apenas matos. Questionei o que aconteceu e a explicação que minha tia, síndica do condomínio, me deu foi até que óbvia: “Todo mundo cresceu e os brinquedos ficaram parados. Foram enferrujando e enferrujando... Decidi retirá-los.” As mesas de jogos, três cercadas por quatro banquinhos, porém, continuavam ali. Um dos banquinhos ainda tortos, fruto do dia em que uma das mesas quebrou e caiu em cima dele, quando estávamos a brincar e dançar em cima dela. Algumas coisas haviam mudado, sim.
Depois do café-da-manhã, caminhei pelas ruas do bairro. Reencontrei de cara meus melhores amigos, Rodrigo e Jorge, e dei em ambos um dos abraços mais apertados que já dei em toda a vida. Aos poucos a ficha foi caindo. Juntos, caminhamos e conversamos e filosofamos sobre como estavam as coisas. Fui à praça que ficava algumas ruas acima da qual eu morei. Ali, o sentimento de nostalgia me invadiu. Nos meus últimos anos no Rio, aquele local me foi sagrado, onde, justamente com a companhia deste melhor amigo, passei horas e horas a questionar diversas situações que me estavam a acontecer. Dessa vez, ao passar no local, agradeci silenciosamente. Naquela época, não esperava quantas mudanças a vida iria me trazer.
Os dias seguintes foram de diversas saídas. Reencontrei minha namorada, Karen, dois dias depois da chegada. O lugar escolhido foi o Centro Cultural do Banco do Brasil. É um dos meus lugares favoritos em todo o Rio. Visitamos duas exposições naquele dia e ainda tivemos tempo de rever uma amiga, Raissa, que saía do trabalho, e então ficamos a conversar, primeiro na Praça XV, e então na Praça Mauá, outro dos meus lugares favoritos.
Entre idas e vindas, visitei lugares que amo de coração, como a Ilha de Paquetá e o Parque Lage, e descobri outros que durante meus vinte anos no Rio ainda não conhecia, como o Parque das Ruínas e o Museu de Arte Moderna. No Parque Lage fiz um piquenique com minha namorada. No Parque das Ruínas, comemoramos nosso aniversário de namoro. O Museu de Arte Moderna é meu novo lugar favorito para admirar o pôr-do-Sol no Rio. A Ilha de Paquetá sempre será um ótimo local para caminhadas leves. Outros lugares que amei rever foram a Quinta da Boa Vista — que agora tem um ar triste após um incêndio em setembro de 2018 atingir o Museu Nacional e destruir quase que completamente o edifício e levar consigo inúmeras coleções do acervo que o compunha —, alguns Shoppings da cidade — em especial o da Tijuca, que foi um dos meus pontos favoritos durante o fim do Ensino Médio em 2014 —, e as praias da Zona Sul — que possuem um tipo de campo magnético que me puxa e me anima, como se fosse um elétron querendo se aproximar do núcleo.
Revi muitas pessoas queridas durante essas férias Rio. Algumas me foram surpresa, me mostrando que não importa o tempo que passe, o laço criado não muda. Uma delas foi outro dos meus melhores amigos, Julio, que me fez companhia no dia em que decidimos jogar RPG em Ipanema. Outra pessoa foi a Rafaella, que conheci em 2014, justamente no Ensino Médio, e que, desde sempre tem estado presente em minha vida, entre curtidas e mensagens pelo Instagram. Katheleen também esteve presente, e ela foi uma das pessoas a quem pude me confessar sem ter medo ou vergonha do julgamento alheio, e que me foi de extrema importância durante períodos sombrios de minha vida. A Álex, conheci aqui no Rio Grande do Norte e ela fez o meu caminho inverso, está morando no Rio de Janeiro desde outubro do ano passado, e foi outra pessoa de extrema importância nos momentos de fragilidade. A lista não para por aqui: Beatriz, Anna, Sara, Samara e Cynthia — também do Ensino Médio —, Matheus e Gabriel — primos —, entre outras pessoas que encontrei pelas ruas do Rio.
Hoje, depois dos quarenta e cinco dias mais animadores, fico a refletir, com o sentimento de gratidão em meu peito, por cada momento que vivi, por cada lugar que visitei, por cada pessoa que reencontrei. Ir ao Rio nos finais de ano tem sido revigorante para mim. Me mostra minha evolução e meu crescimento. Acaba sendo um descanso depois de um ano inteiro cansativo. Faz com que o começo do novo ano seja leve e tranquilo. Recarrega as energias. Tudo por causa dos sentimentos que me inundam e me transbordam depois de todas as aventuras que o Rio me traz.

/ 13 fev 2020

Nenhum comentário:

Postar um comentário