domingo, 9 de março de 2025

Um ano morando só, Minecraft, Vingadores e os quase 30 anos

As pelúcias que decoram minha cama: Blau, o gato azul;
o escudo do Capitão América Sam Wilson; uma Hello
Kitty vestida de Mago Negro; Leo, o peixinho; e um
Charlie Brown abraçado ao Snoopy. Foto de 7 de
março de 2025.

“É bom, contudo, que o homem
confrontando-se com a dificuldade
se julgue de vez em quando.”
(“O mito de Sísifo”, Albert Camus)

HOJE COMEÇO O SEGUNDO ano morando só. Escrevi em janeiro que, no ano passado, eu decidi que queria me mudar pra morar sozinho. A data foi nove de março.
Na verdade, eu tinha pago o primeiro aluguel antes, em 21 de fevereiro, mas a mudança em si só ocorreu em março porque comprei, aos poucos, as coisas que precisava pro cantinho novo que viria a morar. É um espaço pequeno, mas que funciona bem pra uma primeira vez morando só.
A experiência de morar sozinho tem sido no mínimo curiosa. Também já escrevi sobre isso outras vezes e já relatei que temo a sensação de solidão. É um dos fantasmas que me assombram e que tenho tratado em terapia. Claro, é algo que não vai sumir do dia pra noite, nem da noite pro dia, mas é algo que eu ainda assim sigo temendo e a origem eu já conheço. Papo pra um outro dia, com certeza, mas necessário de ser pontuado.
Pois bem, morar sozinho tem sido interessante. Fiz amizade com a vizinhança e isso evita que eu me sinta só. Inclusive, ontem, comemorei com um dos vizinhos o fato de que não faz apenas um ano que passei a morar só mas também faz um ano que o conheço. A ocasião pediu uma pizza e foi ela que dividi com esse vizinho. O papo foi de dinheiro e economia até Sísifo e sua pedra e as escolhas e decisões que tomamos. Finalizou com um abraço apertado e um aperto de mão unido a um “Obrigado por tudo até aqui”.
Aprendi demais a agradecer.
Agradeci, por exemplo, ao meu irmão, que me auxiliou a, pela primeira vez, zerar Minecraft. Tudo bem que foram incontáveis mortes — foram 7 viagens até o local onde o Portal para o Fim do jogo ficava, só para notar que eu não ia conseguir e perder todos os itens que juntei até o momento. Mas, pela primeira vez, jogando sozinho, encarei o medo de enfrentar o Dragão do Fim. Acreditem se quiser, Minecraft consegue ser um jogo extremamente assustador quando quer. E o Fim é definitivamente uma prova disso.
Também fui acompanhado e agradeci — mesmo que ele não faça ideia — ao Jason Aaron e à fase dos Vingadores que ele escreveu. Ela tem sido minha “série da Netflix” em gibi que eu venho maratonando. No meio do caminho, também se juntaram à revista, que se tornou um mix, os títulos do Thor (de Donny Cates), Capitão América (de Ta-Nehisi Coates) e o Homem de Ferro (de Christopher Cantwell, que, por sinal, tem sido uma baita surpresa, especialmente pela arte do Cafu — Carlos Alberto Fernández Urbano — e as cores do Frank D'Armata, que é uma belezura aos olhos). Todos esses personagens estão me acompanhando há algum tempo e tem sido muito bom me divertir com a escrita e as artes.

Capa de Avengers (2018) #1,
por Ed McGuinness

Comecei também um emprego novo, e agradeci por finalmente receber o título de Desenvolvedor Mobile Junior que tanto almejava. É o reconhecimento do primeiro degrau na carreira de qualquer desenvolvedor (se bem que outros cargos também possuem esses títulos). Por mais que eu já trabalhe com programação há 4 anos, eu ainda não tinha recebido nenhum título de experiência. Estou trabalhando num baita projeto legal e para uma Universidade Federal. Isso é fantástico em tantos níveis! Realmente não consigo conter a felicidade.
E comecei esse emprego novo a uma semana de completar 29 anos. Meu aniversário cai na quarta, dia 12, e tenho brincado com todos que essa semana de 9 a 15 de março está totalmente referenciada na minha cabeça. Os diálogos são mais ou menos assim:

— [Algum evento] vai cair no dia 13... — diz alguém.
— Que é na quinta, porque ela é um dia depois do dia 12, e dia 12 é uma quarta e quarta é meu aniversário! — eu respondo.

Acho que estou escrevendo esse texto mais para lembrar da importância de saber agradecer pelas coisas. Sejam elas boas ou ruins, ainda se pode tirar algum proveito, algum ensinamento. Saber ter paciência é importante. A CICADA 3301 colocava em diversos dos seus enigmas que “A paciência é uma virtude”. É preciso saber reconhecer que para tudo há tempo.
Hoje, para mim, é tempo de agradecer.

Parnamirim, 09 de março de 2025
Rio Grande do Norte, Brasil

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Uma palavrinha sobre a revista mensal do Homem-Aranha...

APÓS PRATICAMENTE QUASE quatro meses sem aparecer nas bancas, finalmente O Espetacular Homem-Aranha 22/66 apareceu. E, claro, trouxe problemas.

Atrasada: Capa brasileira da edição de O Espetacular Homem-
-Aranha 22/66, que deveria ter sido lançada em outubro de 2024,
mas foi adiada para janeiro de 2025. Arte por John Romita Jr.,
Scott Hanna e Marcio Menyz.

Queria conversar com vocês sobre isso. Na edição 21/65, Diogo Prado se despediu do papel de editor adiante. E, nos quase quatro meses de atraso que a revista teve, parece que o novo editor, Yuri Primitz, não chegou a fazer o trabalho de casa, recebido às pressas, imagino.
Começando pela capa: é comum que os sobrenomes dos principais artistas presentes na edição apareçam ali. Wells, ou Zeb Wells, o roteirista dessa fase, está ali. Gleason, ou Patrick Gleason, porém, não faz sentido algum de se encontrar na capa. A edição 22/65 contém a edição 31/925, que é uma edição com mais páginas, contendo, além da história principal, diversas histórias extras. Acontece que os artistas da história principal são John Romita Jr. e Emilio Laiso. As histórias secundárias tem roteiros, além do próprio Zeb Wells, de Dan Slott e Celeste Bronfman, e artes de David López, Mark Bagley, Alba Glez e Paco Medina. Em nenhum momento, o nome de Patrick Gleason aparece. Ele, na verdade, é o artista da próxima edição. Falta de atenção logo num dos detalhes importantes da capa.
E então o texto introdutório da revista, que traz o que considero o erro mais grave. Ele abre com “Lonnie Lincoln, o Lápide, vai se casar!” Citar isso justamente nessa edição indica que a pessoa a editá-la não tem a menor noção do que está se passando na revista ou na série como um todo. Basta ler o resumo que Wells escreve na página com a logo: “[...] pois Janice [Lincoln] [...] ficou noiva de Randy Robertson”. Não é o Lápide quem vai se casar, nunca foi desde a primeira edição dessa revista, mas sim a sua filha, a vilã Besouro. Não consigo presumir o que levou o novo editor a escrever essa frase logo em seu primeiro texto como editor do quadrinho mais importante da Marvel, mas o erro foi algo extremamente amador.
Essa revista brasileira me preocupa. Nos EUA, a fase do Zeb Wells encerrou na edição #60, lançada em outubro de 2024 por lá. Ela está MUITO atrasada no Brasil, mas parece que a Panini finalmente vai correr atrás do prejuízo deixando de publicar histórias paralelas e passando a focar apenas no título principal do herói escalador de paredes. Porém, é importante que a editora, ainda assim, não deixe de se preocupar com os detalhes que compõem cada edição, afinal de contas, o valor mensal dela acabou de passar pra um reajuste. Se o preço aumenta e o serviço piora, a conta, infelizmente, não fecha.

A seguir: Capa da edição 23/67 de O Espetacular Homem-
-Aranha, a ser lançada em fevereiro de 2025. Arte por John
Romita Jr., Scott Hanna e Marcio Menyz.

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

“Round 6: Temporada 2”, os problemas e o receio

Gi-hun em foco: O pôster promocional da
segunda temporada mostra que o personagem
estará de volta aos jogos.

QUE A SÉRIE ROUND 6 (Squid Game, originalmente; 오징어 게임 — lê-se ojing-eo geim —, no coreano, referência à brincadeira infantil Jogo da Lula, popular na Coreia do Sul) é um sucesso, isso todos sabem. A primeira temporada fez com que a produção se tornasse a série mais assistida de todos os tempos na Netflix, e também garantiu um Globo de Ouro e seis Primetime Emmy Awards.
Nela, acompanhamos Gi-hun Seong (representado por Lee Jung-jae), um pai divorciado que é viciado em apostas e vive com sua mãe. Por conta das dívidas, ele é convidado para jogar uma série de seis jogos infantis (daí o nome Round 6) pela chance de vencer um gigantesco prêmio em dinheiro. O criador da série, Hwang Dong-hyuk, disse que baseou a narrativa na ironia dos jogos infantis, onde a competição não era importante, e a vida adulta, onde a competição pelo ato de viver é fundamental.
Com muito suspense e violência explícita, a série ganha com o desenvolvimento dos personagens. Ela te faz se apegar a vários só para vê-los, um a um, morrer em tela. A primeira temporada é repleta de momentos que tiram o fôlego, um drama com atuação impecável, diversos momentos de tensão e destaque para as fotografias, onde as cenas são pensadas de forma a tornar cada momento único e histórico.
A trilha sonora também é fundamental, e é composta por diversos clássicos, como Trumpet Concerto, de Joseph Haydn — tocada para acordar os jogadores —, The Blue Danube, de Johann Strauss II — tocada para anunciar o início de um novo jogo — e também um cover de Fly Me to the Moon, que ficou famosa na voz de Frank Sinatra, e que, na série, é cantada pela coreana Joo Woo Shin. Jung Jae-il, o compositor musical, disse que as músicas escolhidas servem para contrastar as mortes cruéis com as melodias suaves.

EM 2024, A CONTINUAÇÃO da série ganhou vida. A segunda temporada foi lançada de uma vez só em 26 de dezembro. Dessa vez, foram sete episódios, em comparação aos nove da temporada anterior. Ela começa exatamente do ponto onde a primeira temporada encerra, com Gi-hun deixando de pegar o voo que tinha para os EUA — ele iria visitar a filha, que se mudou com a mãe para lá — em troca de acabar com os jogos. Daqui para frente, Gi-hun vai ter reencontros com o Recrutador (Gong Yoo) e com o Líder (Lee Byung-hun), e decide participar novamente dos jogos. Era um plano arriscado, mas ele esperava que, junto aos homens que contratou para a sua missão, tudo ocorresse tranquilamente. O problema é que o rastreador que ele implantou num dente foi removido logo em sua captura.

Procurado: O Recrutador dos jogos volta a ter
destaque na segunda temporada da série.

A segunda temporada tem mudanças em relação a primeira. Enquanto que só uma vez foi mostrada a votação para desistência dos jogos, dessa vez, após cada partida, os jogadores sobreviventes podem escolher se querem continuar ou não — isso leva a diversos atritos, pois os jogadores agora, além da numeração, também são identificados com um círculo ou um xis, de acordo com os votos para continuar ou desistir. Ela também conta com jogos diferentes, o que é um ótimo argumento pro avançar do roteiro: como Gi-hun realmente foi campeão da última edição, ele consegue guiar algumas pessoas a passar com sucesso da primeira prova, Batatinha Frita 1, 2, 3. Ele conta aos sobreviventes qual seria o segundo jogo: na vez em que ele venceu, a segunda etapa consistia em recortar uma forma de um dalgona, biscoito feito de açúcar, altamente popular na Coreia, e que sempre traz algum desenho em sua face. O problema é que os jogos mudaram e isso causa desconfiança de todos os presentes.
Outro dos destaques é a revelação de quem é o novo jogador 001. O próprio criador dos jogos participou com este número na primeira temporada. Na segunda, o Líder assume, querendo se aproximar e saber mais das intenções de Gi-hun.
Essa nova temporada tem bons momentos, e o desenvolvimento dos novos personagens também é ótimo, ao mesmo tempo em que somos reapresentados a alguns dos que já conhecemos. Ela não tem conclusão. Fica em aberto para a terceira temporada, agendada para ter seu lançamento ainda em 2025. O que será da série, ainda não sei, mas confesso que a forma que ela acaba nessa segunda temporada é extremamente perfeita, com um cliffhanger que te deixa na ponta do sofá querendo mais.

Apenas um homem endividado: o líder é crucial
para o andar da série.

PORÉM, NEM TUDO que reluz é ouro, como diz o ditado, e a segunda temporada de Round 6 apresenta diversos problemas, sendo o principal deles os furos de roteiro.
No segundo episódio, somos apresentados a Kang No-eul, que inicialmente parece ser mais uma jogadora, mas, posteriormente, é revelado que ela é uma das mascaradas que gerenciam os jogos. Isso contradiz o que foi estabelecido na primeira temporada, quando o Líder afirmou que todos ali usavam máscaras ou números para enfatizar a igualdade entre os participantes — mesmo que, na prática, houvesse diferenças. Na segunda temporada, essa regra é ignorada, e os mascarados frequentemente revelam seus rostos. No-eul, inclusive, entra em conflito com os outros mascarados ao descobrir os planos de remoção e venda de órgãos que ocorrem no local, o que fragiliza ainda mais a coerência da narrativa.
Outro ponto problemático é a mudança brusca no tom da série. O suspense e a tensão ainda estão presentes, mas, frequentemente, piadas são inseridas de forma forçada para quebrar o clima, o que prejudica a imersão. Muitos dos novos personagens foram claramente criados com o propósito de ser alívios cômicos, como o rapper Thanos (interpretado pelo rapper T.O.P), o ex-marinheiro Kang Dae-ho (Kang Haneul), Yong-sik (Yang Dong-geun) e sua mãe Geum-ja (Kang Ae-sim). Até mesmo Jung-Bae (Lee Seo-hwan), amigo de Gi-hun, e alguns dos homens desajeitados contratados no início da temporada cumprem essa função. Em muitos momentos, o excesso de humor acaba causando incômodo, tornando difícil manter a seriedade e o peso dramático que a série originalmente transmitia.

Dançando e girando: o rapper Thanos e seu parceiro
durante um dos jogos.

O término em aberto também pode ser frustrante, uma vez que a primeira temporada se encerra de forma quase que contida. Será preciso esperar o lançamento da terceira para que possamos descobrir qual será o destino de Gi-hun e dos jogadores que restaram após os jogos da segunda temporada.

NÃO HÁ DÚVIDAS de que a segunda temporada provavelmente será tão grande quanto a primeira. Mesmo mais curta, esta temporada ainda consegue cativar e prender o telespectador. Round 6 ainda cumpre seu papel básico de mostrar que, não importa o quanto um jogador tente, quem vence é sempre a casa. O destino de Gi-hun é incerto. Será ele a pessoa que irá mudar essa lógica?

Irajá, 21 de janeiro de 2025
Rio de Janeiro, Brasil

domingo, 5 de janeiro de 2025

Mudanças, músicas, quadrinhos e outras coisas mais...

Duas obras da exposição Uma história da arte brasileira,
disponíveis no Museu de Artes Modernas do Rio.
Foto de 7 de dezembro de 2024.

quanto falta pra gente se ver hoje
quanto falta pra gente se ver logo
quanto falta pra gente se ver todo dia
quanto falta pra gente se ver pra sempre
quanto falta pra gente se ver dia sim dia não
quanto falta pra gente se ver às vezes
quanto falta pra gente se ver cada vez menos
quanto falta pra gente não querer se ver
quanto falta pra gente não querer se ver nunca mais
quanto falta pra gente se ver e fingir que não se viu
quanto falta pra gente se ver e não se reconhecer
quanto falta pra gente se ver e nem lembrar que um dia se conheceu.

Romance em doze linhas, de Bruna Beber.

JÁ FAZ UM TEMPO que não dou as caras nesse blog, então decidi tirar a poeira dele de alguma forma. 2024 foi um ano extremamente peculiar e isso justifica minha ausência. Por mais que eu não tenha parado de escrever, o blog não ganhou foco durante o ano. Tentarei recompensar aqui.
Nos últimos meses, muita coisa aconteceu.
Em fevereiro, comecei uma nova coleção que confesso desejar há muitos anos: agora estou com vinis e uma vitrola. É bem engraçado pensar que o rapaz, da loja onde costumo comprar os discos, me disse que não dava 6 meses para eu ter mais de 50 LPs distintos, e ele foi realmente certeiro. Dentre os discos favoritos, destaco facilmente Scoundrel Days (a-ha, 1986), Faith (George Michael, 1987), Thriller (Michael Jackson, 1982), Turn Back the Clock (Johnny Hates Jazz, 1988) e World Machine (Level 42, 1985).
Acho que um dos mais importantes acontecimentos foi eu passar a morar sozinho. Me mudei no começo de março, nono dia, para ser mais exato. É um cantinho pequeno, mas cujo espaço é suficiente para eu viver tranquilo. Tem sido uma experiência bem interessante. As responsabilidades aumentaram, sim, mas a sensação de liberdade que vem junto é boa. Morar só tem sido curioso principalmente porque tenho aprendido a lidar mais comigo, sem necessariamente depender dos familiares, como acontecia. O fato é que eu fiz amizades logo de cara com a vizinhança da residência onde estou morando e isso também me fez bem: em muitos momentos, tendo a me sentir só, então é bom poder abrir a porta e conversar sobre coisas aleatórias com as pessoas que moram ao meu redor.
Também em março, passei a treinar caratê. Meus irmãos mais novos já praticaram a luta — o mais novo de todos, inclusive, se tornou faixa laranja recentemente — e eu já tinha um certo interesse na arte marcial, que foi escancarado quando comecei a colecionar o mangá que viria a se tornar Mangá do Ano para mim, Mabataki Yori Hayaku!! Num piscar de olhos. Graduei da faixa branca para a amarela e, assim que voltar para Natal, retomarei os treinos.
Enquanto que a coleção de quadrinhos segue crescendo, esse ano ela passou por um corte gigantesco: dos mais de 10 títulos que eu colecionava, hoje, estou mantendo apenas dois — um da DC, Batman, outro da Marvel, O Espetacular Homem-Aranha. Eu até dei a sorte de encontrar, em um sebo, o mangá mais raro já lançado no país (algo que já registrei neste blog).
Por falar em World Machine, fiz 3 tatuagens novas também em março, e uma delas foi exatamente o ícone da capa do disco. As outras duas foram a barra de saúde do jogo Minecraft, em seu modo hardcore e um quadro da minha tira diária favorita de Peanuts, onde Linus e Charlie Brown estão apoiados no muro de tijolos que eles sempre se punham a filosofar. Estou tentando convencer meu melhor amigo carioca a me fazer de cobaia e tatuar mais algumas coisas em mim. (Rodrigo, caso um dia leia isto, espero que tenhas aceitado esse pedido que há tanto insisto.)
Em agosto, veio o momento que a maioria das pessoas que cursam o Ensino Superior temem: a defesa do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Fiquei extremamente nervoso, chegando a transpirar demais durante a defesa. Não convidei ninguém, mas dois amigos prestigiaram e meus pais, de surpresa, chegaram atrasados mas também estiveram presentes — eu infelizmente avisei um horário para eles, mas a defesa fora adiantada para uma hora antes do previsto. Ainda assim, mesmo com todos os percalços da caminhada, meu TCC foi aprovado com louvores e praticamente nenhum ajuste. Recebi convites dos professores presentes na banca para participar do Mestrado e continuar seguindo a carreira acadêmica, algo que confesso desejar e estou seguindo em frente com isso.
Em setembro, outro momento importante: minha formatura. Ao lado de minha madrasta, entrei e recebi meu grau de bacharel em Ciências e Tecnologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). É engraçado quando paro pra pensar, pois um dos sonhos de infância era me tornar cientista (uma influência feita graças ao Franjinha, personagem da Turma da Mônica). Os outros dois sonhos eram ser motorista de ônibus e ter um canal de televisão focado em clipes musicais. Pelo menos um dos três eu já marquei como feito na lista.
Em outubro, voltei para o Rio de Janeiro mais uma vez. Pela primeira vez em anos, descobri que o Rio de Janeiro não tem mais nada que me prenda de verdade. Era uma dúvida que eu tinha e que eu não sabia ao certo como seria lidar. É algo a ser tratado na terapia, claro (uma das metas para 2025, inclusive), mas notei que o apego que eu tinha já não tem mais a mesma força de antes. Tem sido bem peculiar estar aqui de novo. Escrevo, inclusive, no lugar onde vivi minha infância e início da vida adulta (durante alguns anos, não morei em Irajá, mas sim em Ricardo de Albuquerque, com minha mãe). E escrevo acentuando esse sentimento de desapego — ao lugar, à família, às pessoas. Claro, tenho todas as memórias e lembranças boas daqui, das pessoas que tive comigo e dos locais que visitei, sozinho ou acompanhado. Aliás, saí muitas vezes sozinho pelo RJ dessa vez. E tem sido bom ver a cidade assim. Mas, ainda assim, não sinto mais o mesmo gosto que sentia antes.
O fim de ano teve a energia triste que todo fim de ano sempre tem. Mas, ainda assim, teve seus momentos legais, como o Natal em que visitei meu amigo Jorge e interagi com sua família e amigos e o Ano Novo, quando Rodrigo, Lucas e Vinicius vieram visitar a mim e minha avó — do contrário, teria sido uma virada solitária, acompanhada da minha velhinha, que completou 84 anos no dia 25 de dezembro.
Conheci muita gente nova em 2024. Reencontrei muita gente querida demais para mim. Pessoas importantes se afastaram e tive de lidar com o luto da separação. Anna, Bruno, Christopher, Déborah, Eduardo, Ellen, Enric, Gabriela, Gabriele, Julio, Jully, Liana, Lucas, Marcos, Mariana, Mayara, Moisaniel, Pedro, Rodrigo, Victória, Vinicius, Yasmini. Meu psicólogo Jean também precisa entrar na lista. Vocês têm uma estrela de Pessoas do Ano para mim. Obrigado por estarem aqui.
Começo 2025 com algumas dúvidas e algumas certezas. Algumas tristezas e algumas felicidades. Mas escrevo esperando seguir com a cabeça erguida. E, se for preciso baixá-la, espero ter a consciência de que será temporário. Sigo em frente tendo em mente que o alvo agora é crescer pessoal e profissionalmente.
Vejamos o que este ano trará!

Irajá, 03 de janeiro de 2025
Rio de Janeiro, Brasil