domingo, 30 de abril de 2023

“Deathless Deer”: uma ideia genial que terminou de forma abrupta

O anúncio para o lançamento da tira de Deathless Deer que saiu
no Chicago Tribune, trazendo a informação de que as tiras sairiam
em cores e um breve resumo da ideia da história.

EU ESTAVA EM MEU Facebook, passeando pelo Feed de Notícias, quando encontro uma postagem feita para um dos grupos do qual faço parte, dedicado às tiras dominicais. A postagem trazia a arte de uma tira da qual eu nunca tinha escutado falar: Deathless Deer [A Imortal Deer]. Decidi buscar mais informações sobre e eis que me deparo com algo que eu nunca tinha visto antes: esta foi uma tira que morreu de forma extremamente precoce.
Don Markstein, em sua Toonopedia, aponta alguns fatores que contribuíram pra tira — que começou a ser lançada em 9 de novembro de 1942 — ter seu fim tão abrupto. O primeiro é o roteiro da tira, escrita por Alicia Patterson (cujo “Patterson” ela herdou do pai, Joseph Medill Patterson, o famoso jornalista que fundou, em 1919, um dos maiores jornais dos Estados Unidos, o Daily News, que ainda é publicado até hoje. Alicia, inclusive, viria a fundar o Newsday anos depois, em 1940. Ele também segue sendo publicado). De forma pobre, as histórias foram descritas pela revista Time como “uma das aventuras mais vazias já vistas na história dos quadrinhos, talvez uma das piores já desenhadas também”.

Alicia Patterson segurando uma
edição do
Newsday.

O segundo é justamente a arte, feita por Neysa McMein, que era uma artista popular na época, tendo pintado capas para a revista McCall, o jornal The Saturday Evening Post, entre outros. Infelizmente, McMein não tinha a capacidade de cumprir os prazos para as tiras, além do talento não ter foco na arte de contar histórias.

Neysa McMein junto a uma de suas pinturas.

A história, por falar nela, era um tanto quanto apressada: com apenas quatro dias de duração, Deer, que era uma princesa tirânica do antigo Egito, extremamente cruel com seus servos, acabou morta pelos mesmos, que estavam cansados do tratamento que recebiam. Porém, um dos sacerdotes que faziam parte de sua corte, conseguiu dar a ela uma poção de imortalidade bem a tempo de salvá-la da morte.
Deer viria a acordar 3000 mil anos depois, quando encontraram seu sarcófago onde ela foi enterrada (viva?). Aparentemente, seu falcão de estimação, Hórus, também tomou um pouco da poção, pois ele também viria a acordar junto à princesa. De alguma forma, a magia do tempo fez que ela se tornasse mais adorável, mas ainda mantivesse sua força de vontade, e ela se viu vivendo aventuras pelo mundo, começando na cidade de Nova Iorque.
Porém, Patterson não conseguia manter um interesse pela tira e, no último capítulo lançado, Deer estava sendo acusada de um assassinato. Infelizmente, ninguém parecia ter curiosidade suficiente para saber como seria o desenrolar, e a tira teve seu fim em 7 de agosto de 1943, com alguns jornais encerrando ainda antes, em 19 de julho.

FUI CAPAZ DE JUNTAR todas as tiras dominicais da série — que não eram bem tiras dominicais mas sim uma compilação dos seis dias da semana em uma tira gigantesca (chegando a passar de 10 quadros). Busquei-as no Newspapers.com e salvei em meu arquivo digital justamente por conta de todo o mistério que envolve a criação, o desenrolar e o fim sem mais nem menos.
No total, apenas 38 dessas “tiras dominicais” foram feitas entre 1942 e 1943. O Newsday, jornal que foi fundado pela mesma Alicia Patterson, respondeu a uma carta de um fã que escreveu “O que aconteceu com os quadrinhos da Deathless Deer? Nós realmente gostávamos de ler suas histórias." A resposta do jornal foi que, “devido à pequena produção de papéis e outros matérias causada pela Guerra, o News Syndicate Co. que distribuía a tira Deathless Deer foi forçado a discontinuá-la, junto a diversas outras tiras, enquanto a Guerra durar.
Ela nunca mais veria a luz do dia novamente.

DEIXO TODAS AS TIRAS lançadas abaixo, na ordem de publicação.


22 de abril de 2023,
Parnamirim, Rio Grande do Norte, Brasil.

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