domingo, 7 de fevereiro de 2021

Uma entrevista com Paul Norris

EM 1988, ROBERT POLLAK — um grande amigo online que possuo — entrevistou ninguém menos que Paul Norris para a revista Amazing Heroes [Heróis Surpreendentes]. O nome parece estranho de começo, e, aliás, Norris quase não tem o reconhecimento que merece, ao menos em terras brasileiras. Mas Norris, além de ter sido o nome da tira Brick Bradford durante 35 anos, também foi o criador do Aquaman, o famoso herói aquático da DC Comics. Norris se aposentou em 1987 e faleceu vinte anos depois, em 2007, aos 93 anos de idade.
Decidi traduzir a entrevista que, mesmo curta, é extremamente interessante, onde Norris dá um panorama geral de como foi sua vida e sua relação com os quadrinhos.

Paul Norris.

ROBERT POLLAK [Amazing Heroes]: Por quantos anos você trabalhou na tira diária e dominical de Brick Bradford?
PAUL NORRIS: Eu estava entrando no trigésimo sexto ano da minha carreira com a tira diária de Brick Bradford. Comecei a desenhá-la de forma anônima em 1951 quando a saúde de Clarence Gray começou a ficar ruim. Passei a assiná-la em 1952. Gray continuou com a tira dominical até a sua morte, em 1957 e foi a partir daí que assumi o controle das páginas dominicais. Eu estava desenhando as páginas dominicais de Jungle Jim [Jim das Selvas] (até 1954) quando o [Sindicato] King Features decidiu entregar a tira de Brick para mim.

RH [AH]: Quais foram as tiras que você trabalhou antes disso?
PN: No final da década de 1930, eu desenhei uma tira dominical chamada Scoop Lenz para o Dayton (jornal diário de Ohio). Vim para Nova Iorque em 1940 para auxiliar Al Carreno na produção dos gibis do Blue Beetle [Besouro Azul]. Não foi muito bom. Então comecei a trabalhar sozinho. Após fazer algumas histórias para gibis, recebi a tira de aventura do Vic Jordan, que era distribuída pelo Newspaper PM (1942–1943). Me juntei ao King Features para desenhar o Agente Secreto X-9 em 1943 e depois fui para Jungle Jim (1948–1954).

RH [AH]: Você também escrevia as histórias além de fazer as artes?
PN: Sim. Eu estudei Jornalismo na faculdade e gostava de escrever tanto quanto desenhar. Escrevi inúmeras histórias para gibis: Yank and Doodle, Power Nelson, Flash Gordon e Jungle Jim.

RH [AH]: Quais foram as mudanças significantes nos personagens que foram feitas sob a sua direção [em Brick Bradford]?
PN: Eu estabeleci meus próprios personagens assim que foi possível. Naturalmente, eu mantive Brick Bradford bem como Ritt e Gray o criaram. Com o passar dos anos a tira se tornou o que eu queria que ela fosse e com isso fiquei mais confortável. Brick Bradford era realmente uma tira dos sonhos para produzir. Ela possuía uma vasta área para se explorar, era pura ficção científica.

Arte de Norris na tira de Brick Bradford, datada de 1 de julho de 1962.

RH [AH]: Você chegou a conhecer os criadores de Brick Bradford, [William] Ritt e [Clarence] Gray?
PN: Não, nunca conheci nenhum dos dois. Gray morava em Cleveland... E acho que o Ritt morava em Indianápolis. Eu morava em Nova Jersey. Em qualquer evento que ia, Ritt já tinha ido embora quando eu chegava ao local.

RH [AH]: Por que Brick Bradford se aposentou com você?
PN: O que aconteceu foi o contrário. Eu me aposentei com Brick. Era uma decisão superior da Hearst Corporation e do King Features de encerrar a tira de Brick depois de cinquenta e três anos e meio. Eu tinha prometido a minha esposa Ann que eu iria me aposentar com 73 anos. O sindicato facilitou. A última tira saiu no dia 25 de abril, um dia antes do meu aniversário de 73 anos.

RH [AH]: Quais foram os gibis que você trabalhou durante os últimos quarenta anos?
PN: Yank and Doodle e Power Nelson, para a Prize Comics; o Aquaman original, para a DC Comics; Flash Gordon, para a Dell Comics; Jungle Jim pra Pine e Dell Comics; Perry Mason, para o King Features; Captain Compass, para a DC Comics; Magnus, Aliens, Tarzan e Jungle Twins para a Western; Dyn-o-mite, para a Hanna-Barbera; essas são algumas das várias que me esqueci.

A primeira aparição do Aquaman, na revista
More Fun Comics #73, de novembro de 1941.

RH [AH]: Você teve algum assistente durante esses anos?
PN: Não. Letristas, sim. E minha esposa, Ann, era muito ajudante quando o trabalho começava a pesar. Ela amava preencher aquelas áreas com preto. Durante o fim da década de 1960, fiz muitas artes à lápis para a Western Publishing, que eram finalizadas por Mike Royer. E isso foi o mais próximo que cheguei de ter um assistente.

RH [AH]: Quais ilustradores e cartunistas você admira?
PN: Ilustradores: Matt Clark, Albert Dorne e Noel Sickles. Cartunistas: Al Carreno e Milton Caniff.

RH [AH]: Quem foi sua maior influência estilística na indústria?
PN: Os artistas que eu mencionei acima tiveram uma grande influência em mim, mas eu nunca tentei imitá-los.

RH [AH]: Você está planejando fazer algum trabalho com arte num futuro próximo ou distante?
PN: Não. Quando eu me aposentei, desmontei meu estúdio. Não parecia estar alinhado com minha ética de trabalho, porque eu era um workaholic, mas simplesmente desisti.

RH [AH]: Muito obrigado pelo seu tempo. Sua carreira e contribuições são longas e excepcionais. Você tem algum comentário final que gostaria de fazer?
PN: Primeiramente, muito obrigado pelas perguntas e comentários. Eu sempre disse que me tornei um cartunista porque era a única ocupação que eu sabia que me permitiria dormir até tarde em manhãs chuvosas. Agora, depois de quarenta e oito anos de trabalho, é um prazer não precisar mais enfrentar prazos... E todas as manhãs passaram a ser tratadas como manhãs chuvosas desde então.

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