segunda-feira, 28 de abril de 2025

Brick Bradford: um marco na ficção científica

Destemido. Recorte da capa de Brick Bradford #6, lançada
em outubro de 1948 pela Standard Comics. A edição trazia
uma das histórias mais clássicas,
Brick Bradford e o
Monstro de Metal (1939).

BRICK BRADFORD É LEMBRADO principalmente como uma tira de ficção científica/aventura espacial, nos moldes de Buck Rogers in the 25th Century A.D., de Dick Calkins, ou Flash Gordon, de Alex Raymond. Mas, quando começou, parecia mais com outra criação de Calkins, Skyroads, que, como Tailspin TommyThe Adventures of Smilin' Jack, era sobre aviadores aventureiros.
A tira diária começou em 21 de agosto de 1933, distribuída pela Central Press Association. Essa pequena e pouco lembrada agência era uma subsidiária da King Features Syndicate, líder em distribuição de quadrinhos desde o começo. A Central era especializada em jornais de cidades pequenas, então levou algum tempo até que Brick fosse visto nos grandes centros urbanos, que tinham públicos mais sofisticados. Apesar disso, os leitores responderam bem aos enredos, que envolviam robôs gigantes, dinossauros estranhos, mundos subatômicos e outras coisas mirabolantes do tipo, e uma tira dominical foi lançada 15 meses depois. Como muitos jornais clientes não publicavam edições dominicais, a tira do fim de semana estreou num sábado, em 24 de novembro de 1934.

Na terra dos desaparecidos. A primeira tira dominical
de Brick Bradford, de 25 de setembro de 1934.

Brick foi criado pelo roteirista William Ritt — um jornalista baseado em Cleveland, Ohio (onde, mais ou menos na mesma época em que Brick estreava, Jerry Siegel e Joe Shuster começavam a desenvolver o Superman) — e pelo artista Clarence Gray (que não tem parentesco com Harold Gray, o criador de Little Orphan Annie). Ritt aparentemente não tinha vergonha de mostrar sua educação extensa para entreter os leitores, já que pontos da trama frequentemente dependiam de detalhes da mitologia clássica ou de curiosidades da ciência moderna. Mas ele também era fã das artes populares, e as histórias se desenrolavam no ritmo acelerado das melhores revistas pulp.
Em poucos meses, a tira já estava sendo publicada em jornais maiores, e a versão de final de semana assumiu o formato de uma página dominical regular. Um topper (história complementar que vinha acima da tira dominical) foi adicionado em 20 de abril de 1935, chamado The Time Top [no Brasil, ficou conhecido como “Pião do Tempo”], que envolvia um veículo em forma de pião que podia viajar no tempo — surgindo mais de quatro anos antes do dispositivo do Doc Wonmug em Alley Oop, sendo a primeira máquina do tempo a aparecer regularmente nos quadrinhos. Essa série durou apenas alguns meses, mas não foi esquecida — em 17 de outubro de 1937, o Pião do Tempo passou a fazer parte regular das aventuras dominicais de Brick. Enquanto as viagens no tempo de Oop eram limitadas ao passado, Brick visitava qualquer era, principalmente o futuro. Assim, todo o cosmos se abriu para ele. Já nas tiras diárias, Brick permanecia na época presente.

Aventureiro. Tira dominical, de 13 de junho de 1965,
com roteiro e arte de Paul Norris. É possível ver o Pião
do Tempo no primeiro e último quadro.

Quando a King Features entrou no ramo das revistas em quadrinhos, Brick Bradford foi junto. Reimpressões da tira começaram a aparecer nas últimas páginas da revista King Comics já na primeira edição (abril de 1936), junto com Barney Google and Snuffy Smith, Henry, Bringing Up Father e outros personagens do sindicato. Popeye, claro, era a figura principal na capa. A revista Ace Comics reimprimiu Brick de 1947 a 1949. Ele teve seu próprio título, também feito de reimpressões, por alguns meses em 1948, publicado pela Standard Comics. As únicas histórias originais de Brick Bradford para as revistas em quadrinhos surgiram no final dos anos 1960, publicadas na King Comics nas páginas finais de revistas dedicadas ao Fantasma e Mandrake, o Mágico. Brick também apareceu em um seriado pro cinema de 15 episódios da Columbia Pictures, estrelando Kane Richmond, no ano de 1947.
Na metade da década de 1940, Ritt aparentemente perdeu o interesse em Brick Bradford, e os roteiros refletiram isso. Ele acabou saindo dos roteiros em 1948, deixando primeiro as tiras diárias e depois a dominical para Gray. O artista assumiu todo o trabalho sozinho até 1952, quando problemas de saúde o forçaram a abandonar as tiras diárias. Paul Norris — que durante quatro anos havia desenhado Jungle Jim para a King — assumiu seu lugar. Gray morreu cinco anos depois, e Norris passou também a desenhar as tiras dominicais. Norris já havia deixado sua marca nos quadrinhos ao cocriar o Aquaman para a DC, e também é conhecido por seu trabalho em Agente Secreto X-9, Vic Jordan e outras séries, mas Brick Bradford acabou superando tudo o que ele fez na área.

Diferentes estilos. Duas tiras diárias: a primeira com
roteiro de William Ritt e arte de Clarence Gray e a
segunda com roteiro e arte de Paul Norris.

Brick continuou tendo aventuras por décadas, com histórias ambientadas na Terra contemporânea nas tiras diárias e no espaço do futuro nas tiras dominicais. Norris continuou escrevendo e desenhando tudo. Mas, como a maioria das tiras de aventura, sua circulação foi diminuindo gradualmente. Quando Norris se aposentou, Brick Bradford foi encerrado junto com ele. A última tira diária foi publicada em 25 de abril de 1987, e a última dominical saiu duas semanas depois.

BRICK BRADFORD EM TERRAS BRASILEIRAS

NO BRASIL, BRICK Bradford também encontrou seu espaço entre os leitores. Conhecido inicialmente como “Dick James”, o personagem apareceu pela primeira vez na edição 27 do Suplemento Juvenil, em setembro de 1934. Depois, começou a aparecer em outras revistas de tiras e suplementos de quadrinhos da época, que apresentavam material da King Features Syndicate, como O Globo Juvenil, A Gazetinha e o Gibi Semanal.

Outro nome. Brick Bradford foi chamado
de Dick James quando saiu no
Gibi #35,
em 1939.

Suas histórias, muitas vezes condensadas, eram traduzidas e adaptadas para o público brasileiro, com pequenos ajustes nos diálogos e nomes próprios para se adequar melhor ao português. Durante as décadas de 1960 e 1970, algumas editoras menores, principalmente a Lord Cochrane e a Paladino, também republicaram aventuras de Brick Bradford no Brasil, em almanaques e revistas de tiras colecionáveis, aproveitando a febre da ficção científica e da exploração espacial, popularizadas na cultura mundial pela corrida espacial que acontecia durante a Guerra Fria.
Apesar de nunca ter atingido o mesmo nível de popularidade de Flash Gordon ou Fantasma em terras brasileiras, Brick Bradford manteve uma base fiel de leitores, especialmente entre fãs de histórias de aventura e ficção científica clássica. Algumas de suas histórias envolvendo viagens ao futuro e mundos paralelos eram vistas como inovadoras na época, conquistando leitores fascinados pela ciência e pela fantasia.
Atualmente, as aparições de Brick Bradford no Brasil são objeto de colecionadores e aficionados pela chamada “Era de Ouro” dos quadrinhos. Sua última aparição no país se deu na revista Stripmania 3, lançada pela Opera Graphica em 2003.

Parnamirim, 28 de abril de 2025
Rio Grande do Norte, Brasil

domingo, 20 de abril de 2025

“Moving On and Getting Over”, de John Mayer

Impacto. Capa de The Search for Everything. O disco
estreou na segunda posição da
Billboard 200, nos EUA.

SE TEM UMA MÚSICA que, de tempos em tempos, eu me pego ouvindo diariamente, essa música é Moving On and Getting Over, oitava faixa do álbum The Search for Everything — sétimo do cantor John Mayer, lançado em 2017.
Lembro do momento em que fui apresentado ao disco por um dos meus melhores amigos, Marcos Munay. Foi em 2017 mesmo. Eu trabalhava numa gráfica rápida, foi meu primeiro emprego ao chegar em Natal, no mesmo ano. Na época, eu ficava sempre entre ouvir Still Feel Like Your Man — que abre o álbum — e a anteriormente citada, sempre em loop. Se eu tivesse feito um recap do que mais ouvi naquele ano, na época, certamente essas duas músicas estariam presentes no Top 5.
Segundo o Genius, a música aborda a dificuldade emocional de seguir em frente após um término. Apesar do título sugerir que é fácil “superar e seguir em frente”, a letra revela o contrário — ele ainda sente falta, pensa nela constantemente, e se vê preso nesse processo ambíguo de cura. A batida é envolvente, “grooveada”, o que cria um contraste interessante entre o som leve e a letra emocionalmente densa.
Mayer disse em entrevistas que ele quis criar uma vibe de “música para dirigir de noite” — introspectiva, com batida constante e envolvente. Essa foi uma das primeiras músicas a serem apresentadas na série de lançamentos por etapas de The Search for Everything. O álbum foi lançado em partes, com as faixas sendo liberadas aos poucos.
Como de praxe neste blogue, sempre trago o vídeo com a música e a letra traduzida:


John Mayer
“Moving On and Getting Over”

Seguir em frente e superar
Não são a mesma coisa, ao que me parece
Porque você se foi, estou envelhecendo
Mas ainda não consigo te tirar da cabeça
E realmente acredito que sinto você o tempo todo

Seguir em frente e superar
Não são os amigos que costumavam ser
Faz tanto tempo desde que pude te abraçar
Mas ainda não consigo te tirar da cabeça
E realmente acredito que sinto você o tempo todo, o tempo todo

Me diga que posso me apegar ao fato de que você me amou
Me diga que posso manter a porta entreaberta
Para deixar a luz entrar
Por toda a minha fuga, posso entender
Estou a uma mensagem de voltar novamente
Mas estou seguindo em frente e estou superando
Estou superando, estou superando
Tenho que superar

Seguir em frente e superar
Já faz tanto tempo; isso só mostra
Que ainda não consigo te tirar da cabeça
E eu realmente gostaria de te ver mais uma vez

Está me levando tanto tempo apenas para dizer "adeus"
Talvez esteja tudo errado, mas estou seguindo em frente
Vou arranjar uma nova garota, é algo que posso fazer, garota
Para tentar me ajudar a superar, garota

Porque estou seguindo em frente
Estou seguindo em frente (×4)
Considere-me como praticamente desaparecido
Porque estou seguindo em frente

Parnamirim, 16 de abril de 2025
Rio Grande do Norte, Brasil