domingo, 6 de março de 2022

Do rádio à TV e, então, às tiras de jornal: Dragnet

Os atores Jack Webb e Harry Morgan.

DRAGNET FOI PROVAVELMENTE o motivo pelo qual seriados como C.S.I. [C.S.I.: Investigação Criminal], Law & Order [Lei & Ordem], Criminal Minds [Mentes Criminosas], entre vários outros seriados do gênero “investigação forense”, hoje possuam fama. Sua primeira versão foi lançada para o rádio, indo ao ar entre 1949 e 1957 na rádio NBC. O criador da série, Jack Webb, teve a ideia de lançar um programa que trouxesse um foco grande no dia a dia dos detetives e investigadores, mostrando como o trabalho policial tinha o “repetitivismo” e a penosidade, mas também os perigos e os dramas derivados de cada caso com o qual a força de segurança tinha de lidar. Funcionou.
Webb prezava pelo realismo da série, e esse foi o principal fator pelo seu sucesso. Ele participava ativamente de visitas à delegacias, e até participou de cursos da Academia de Polícia só para aprender termos e detalhes que ele poderia vir a utilizar em seu personagem, o sargento Joe Friday. Webb chegou a incluir detalhes reais como os nomes de oficiais e chefes do Departamento de Polícia de Los Angeles — cidade em que a série era ambientada.
Mas talvez o que mais marcou a série foi seu anúncio inicial, feito por George Fenneman em uma voz única: “Senhoras e senhores: a história que vocês irão ouvir é verdadeira. Somente os nomes foram alterados para proteger os inocentes.” A introdução era seguida de passos e da voz de Webb explicando as situações iniciais: “Terça-feira, dia 4 de julho. Fazia frio em Los Angeles. Estávamos trabalhando num caso de assassinato. Meu parceiro é Ben Romero. O chefe dos detetives é Ed Backstrand. Meu nome é Friday.” Todos os episódios possuíam o mesmo começo, apenas alterando datas, climas e alguns detalhes de descrição. Junto a tudo isso, o tema de Dragnet, Danger Ahead! [“Perigo à Frente!”] era escutado — tema este que foi problema de tribunal, tendo Walter Schumann, o compositor da música, sido acusado de plágio pelos publishers do filme The Killers (1946). De acordo com os publishers, Schumann tinha visitado o estúdio de gravação do filme, e acabou ouvindo uma parte do tema, gravado por Miklós Rózsa. A solução veio com um acordo que dividia os direitos do tema de Dragnet entre Schumann e os publishers.


O SUCESSO DE DRAGNET no rádio foi tão grande que, dois anos após sua estreia no rádio, o programa migrou para a TV. Filmado nos Estúdios Walt Disney, a série de TV elevou Dragnet a um novo patamar. Mesmo em preto e branco, agora era possível ver todas as ações e reações narradas no rádio. Além disso, a série trazia as mesmas identidades que já usava em áudio, além dos mesmos atores. A mesma NBC foi a produtora responsável.
Uma curiosidade interessante de se notar é que Webb não queria atuar na TV: ele chegou a recusar o papel de Joe Friday, indicando inclusive um ator para tal — o famoso Lloyd B. Nolan —, mas acabou sendo convencido pela própria NBC a realizar o papel, afinal já era conhecido pelo público do rádio e, talvez, poderia ocorrer uma falta de identificação por parte do mesmo caso a mudança fosse feita.
A série foi longa. Com um total de 276 episódios, distribuídos em 8 temporadas, ela saiu, ano após ano, entre 1951 e 1959. E essa foi apenas a primeira versão. Outras três viriam — a segunda, lançada entre 1967 e 1970, teve 4 temporadas e 98 episódios; a terceira (nomeada de O Novo Dragnet) saiu entre 1989 e 1990, com duas temporadas de 26 episódios cada; e a última e mais recente, L.A. Dragnet, em 2003, teve somente duas temporadas, mas com apenas 22 episódios (sendo que os dois últimos nem foram ao ar nos EUA, pois a série foi cancelada prematuramente). Porém, nenhuma das subsequentes conseguiu o mesmo sucesso da primeira versão — mesmo com a segunda tendo o mesmo Jack Webb voltando ao seu papel clássico.

Imagem de divulgação da série de 1967, com
os atores Harry Morgan e Jack Webb.

O pôster de Dragnet, o Filme com
Dan Aykroyd e Tom Hanks.

Dragnet também foi parar nas telas de cinema em três ocasiões distintas: 1954, 1966 e, finalmente, 1987. Esta última foi a mais famosa: uma comédia do tipo buddy cop — estilo que traz duas pessoas com diferentes personalidades tendo de agir juntas em prol da resolução de um crime — com ninguém mais, ninguém menos que Dan Aykroyd como Joe Friday (que, aqui, é o sobrinho do Friday da série de TV) e Tom Hanks como Pep Streebek, parceiro de Friday. Rendeu 67 milhões de dólares de bilheteria mundial.

MAS O NOME DRAGNET não parou por aí. E foi em 23 de junho de 1952 que a tira baseada na série deu as caras nas páginas dos jornais dos Estados Unidos. Três artistas passaram pela tira: Joe Sheiber, que ficou até setembro daquele ano; Bill Ziegler, que assumiu logo após, mas não assinou seu nome até março de 1953, ficando na tira até janeiro de 1954; e Mel Keefer, que levou a tira até o fim, em maio de 1955. Os roteiros ficaram por conta de Jack Robinson, um dos roteiristas da série de TV.

A primeira tira de Dragnet, datada de 23 de junho de 1952.
Roteiro por Jack Robinson e arte de Joe Sheiber.
Tradução e letreiramento por Lucas Cristovam.

A tira, assim como a série de TV, também seguiu os mesmos passos do programa de rádio, e, a cada começo de arco, trazia os mesmos dizeres iniciais das versões já conhecidas. E ela teve sucesso em adaptar perfeitamente para os quadrinhos os detalhes que trouxeram sucesso ao rádio e à TV: todos os diálogos em sua forma eram semelhantes e as narrativas feitas por Friday estavam presentes como quadros com uma fonte de máquina de escrever. A arte da tira, simples e direta, também valorizava demais o todo — apesar de fontes dizerem que a mudança de artistas se deu porque Webb queria um que o desenhasse o mais “fiel e bonito” o possível, como ele “merecia ser desenhado”; de todos os artistas que passaram pela tira, Mel Keefer foi o que mais se aproximou disso.
Mesmo curta, a tira teve uma boa quantidade de histórias. Foram mais de 20 arcos durante os três anos de vida.

FELIZMENTE, É POSSÍVEL encontrar o programa de rádio, a série de TV e as tiras de jornal online. Os dois primeiros encontram-se facilmente no YouTube — 308 dos 314 episódios da série de rádio estão neste link, enquanto que 24 episódios de variadas temporadas da série TV estão neste link. A tira de jornal é encontrada no blog Newspaper Comic Strips, onde a contribuição foi feita por este que lhes escreve. Reuni todas as tiras que pude encontrar online e disponibilizei a série completa ao dono do blog — cujo objetivo é distribuir tiras de jornais dos mais variados anos para download, um blog importantíssimo para manter viva a memória desta mídia tão querida por mim.
Longa vida ao sargento Joe Friday e a Dragnet!

Lucas Cristovam, 18 de fevereiro de 2022,
Parnamirim, Rio Grande do Norte, Brasil.

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