AS JANELAS ME CONVIDAM para refletir. Sentado à janela do
carro, ao som de Summer Madness — minha música favorita, um instrumental
da banda Kool and the Gang —, fiquei a pensar sobre minha vida e o rumo que ela
tem tomado.
“Estou vivendo ou apenas existindo?”,
diz um meme que circula pela internet. Pus minha mente para pensar na
pergunta. Essa semana, não fui para minha terapia — foi feriado no dia,
descansei — mas decidi refletir sobre o assunto antes de levá-lo para o consultório.
“A vida é o que você faz dela”, diz a
banda Talk Talk em sua canção Life Is What You Make It. O que
tenho feito da minha?
Olhei para o céu e observei as nuvens
passando, livres e leves. Já tive muitos pesos carregados do passado. Senti-me
como uma nuvem a ponto de chover diversas vezes, mas simplesmente não o fazia.
Falei sobre isso em uma crônica anterior, sobre a importância da tristeza.
Talvez, se eu tivesse chovido mais vezes, não teria trazido tanta carga comigo
durante todo meu trajeto nessa vida.
Ah, essa vida… Vida de surpresas. Creio
que uma das maiores delas foi minha mudança para o Rio Grande do Norte. Como
estaria sendo minha vida se ainda estivesse no Rio de Janeiro? Será que teria tomado a
coragem de me redescobrir, de pedir ajuda, de aceitar buscar tratamento
psicológico? Me pergunto como estaria sendo…
Parece que, por sermos humanos, frágeis
por natureza, temos a necessidade de estar no controle das coisas. Talvez esse
seja o maior motivo de eu estar agora refletindo e escrevendo sobre esse
questionamento que fiz no começo do texto. “Estou vivendo ou apenas existindo?”
Vivi por muito tempo tendo essa pergunta como foco.
Outro trecho musical me vem à cabeça:
“Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia” (Lulu Santos, Como
Uma Onda – Zen-surfismo). Minha fragilidade ainda me gera inseguranças
sobre o futuro. Sobre o passado. Influencia diretamente o presente. “Como será
meu amanhã?”, às vezes me vejo a questionar no hoje.
Vejo pessoas passarem por mim. Agora,
encontro-me na entrada do meu setor na Universidade. Quem diria que estaria
cursando o Ensino Superior em uma das melhores Universidades públicas do país?
E que estaria me encontrando com ela… Outra surpresa da vida. Penso no orgulho
daqueles que torcem por mim. Agradeço a todos mentalmente, enquanto admiro a
estrutura do prédio onde estudo.
Epitáfio dos Titãs diz:
Devia
ter amado mais,
Ter
chorado mais,
Ter
visto o sol nascer,
Devia
ter arriscado mais,
E
até errado mais,
Ter
feito o que eu queria fazer.
Vejo um menino sentado, fones nos
ouvidos, a desenhar alguma coisa. Folhas nas árvores. O vento sopra,
balançando-as. Ao fundo, sons de carros passando para lá e para cá. “Há uma
imprevisibilidade na vida”, li ainda agora, no Instagram. É essa
imprevisibilidade a responsável pelas surpresas.
Sinto-me vivo. Sinto-me existir. Sinto.
São tantas as singularidades que
compõem a vida, e cada detalhe único do agora faz com que o geral valha muito
mais a pena. Que eu possa admirar e me surpreender ainda mais com o que cada
dia me espera. “E nada como um dia após o outro”, diz Tiago Iorc em sua canção.
Sobre meu passado, ele já ocorreu e eu
vivi e existi lá. Errei e aprendi com os erros. Acertei e hoje me orgulho de
cada um dos acertos. Sobre meu amanhã… Eu me preocupo com o amanhã quando ele
chegar.
No momento, o que pretendo é continuar
vivendo e existindo no agora, que é o que realmente importa como resposta para a
dualidade causada pela pergunta “Estou vivendo ou apenas existindo?”.
(Dedicado a Karen de Souza e Álex
Costa.)
/ 30 out 2019
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