HOJE ME VI CHORANDO na janela de um ônibus às
sete e meia da manhã. À minha frente, uma mulher me encarava no banco ao
contrário (que existe em alguns veículos urbanos mais novos). Imagino os
inúmeros questionamentos que ela poderia ter se feito sobre os possíveis
motivos que levaram lágrimas a caírem de meus olhos. Eu entendo. Afinal, é
segunda, início de semana, após um fim de semana com feriado. Presumo que a
maioria das pessoas estão começando o novo ciclo semanal e que não teriam
motivo para chorar nas primeiras horas do primeiro dia útil.
Levei a dúvida da tristeza para o
consultório onde realizo minha terapia psicológica.
— Estou desde ontem à noite a chorar com
saudade e nostalgia de tempos passados. Isso é normal? — questionei.
Ambos os sentimentos surgiram depois que
ouvi Out of Touch, da dupla Daryl Hall e John Oates, que marcou boa
parte de 2016, meu último ano no Rio de Janeiro antes de me mudar para o Rio
Grande do Norte.
— Sim, não há problema algum em chorar ou
sentir-se triste por saudade, desde que se saiba estabelecer um limite. — Foi a
resposta que obtive de minha psicóloga.
Nesse meu processo de descoberta e
autoconhecimento — me refiro à terapia que estou frequentando desde a metade
deste ano —, o sentimento que mais estranhei sempre foi a tristeza. Talvez seja
porque nunca a encarei de frente. Pelo contrário, sempre achei mais fácil
ignorá-la. A sociedade impõe que, para um homem, a tristeza é sinal de
fraqueza, e um homem não deve demonstrar fragilidade de maneira alguma. Por
mais que, quando pequeno, eu não tenha sido moldado pela sociedade externa,
minha família me gerou essa necessidade de blindagem “antimelancolia”.
Agora, tenho outra visão sobre a tristeza, e já até consigo
aceitá-la como um sentimento importante. Aprendi na terapia que é preciso
sentir de tudo, sem querer ignorar. Com isso, ganhei a noção de que se a
vontade vir, só vou abrir a porta para ela entrar, oferecer um café, bater um
breve papo para entender seus motivos e então deixá-la ir embora.
E é assim que é a tristeza na vida. Como
uma visita que você não gostaria de convidar, mas que se torna necessária em
alguns dias. Sim, às vezes acontece de vir o choro na tristeza, mas ele é
importante. Aliás, chorar é aliviante. É a melhor forma de colocar para fora
coisas que nem palavras seriam capazes de expressar.
A vida tem tantas emoções diferentes que
seria um desperdício não viver cada uma delas. Por conta disso, passei o dia a
chorar. E sinto orgulho de estar aqui assumindo isso.
/14 out 2019
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