QUE A SÉRIE ROUND 6 (Squid Game, originalmente; 오징어 게임 — lê-se ojing-eo geim —, no coreano, referência à brincadeira infantil Jogo da Lula, popular na Coreia do Sul) é um sucesso, isso todos sabem. A primeira temporada fez com que a produção se tornasse a série mais assistida de todos os tempos na Netflix, e também garantiu um Globo de Ouro e seis Primetime Emmy Awards.
Nela, acompanhamos Gi-hun Seong (representado por Lee Jung-jae), um pai divorciado que é viciado em apostas e vive com sua mãe. Por conta das dívidas, ele é convidado para jogar uma série de seis jogos infantis (daí o nome Round 6) pela chance de vencer um gigantesco prêmio em dinheiro. O criador da série, Hwang Dong-hyuk, disse que baseou a narrativa na ironia dos jogos infantis, onde a competição não era importante, e a vida adulta, onde a competição pelo ato de viver é fundamental.
Com muito suspense e violência explícita, a série ganha com o desenvolvimento dos personagens. Ela te faz se apegar a vários só para vê-los, um a um, morrer em tela. A primeira temporada é repleta de momentos que tiram o fôlego, um drama com atuação impecável, diversos momentos de tensão e destaque para as fotografias, onde as cenas são pensadas de forma a tornar cada momento único e histórico.
A trilha sonora também é fundamental, e é composta por diversos clássicos, como Trumpet Concerto, de Joseph Haydn — tocada para acordar os jogadores —, The Blue Danube, de Johann Strauss II — tocada para anunciar o início de um novo jogo — e também um cover de Fly Me to the Moon, que ficou famosa na voz de Frank Sinatra, e que, na série, é cantada pela coreana Joo Woo Shin. Jung Jae-il, o compositor musical, disse que as músicas escolhidas servem para contrastar as mortes cruéis com as melodias suaves.
EM 2024, A CONTINUAÇÃO da série ganhou vida. A segunda temporada foi lançada de uma vez só em 26 de dezembro. Dessa vez, foram sete episódios, em comparação aos nove da temporada anterior. Ela começa exatamente do ponto onde a primeira temporada encerra, com Gi-hun deixando de pegar o voo que tinha para os EUA — ele iria visitar a filha, que se mudou com a mãe para lá — em troca de acabar com os jogos. Daqui para frente, Gi-hun vai ter reencontros com o Recrutador (Gong Yoo) e com o Líder (Lee Byung-hun), e decide participar novamente dos jogos. Era um plano arriscado, mas ele esperava que, junto aos homens que contratou para a sua missão, tudo ocorresse tranquilamente. O problema é que o rastreador que ele implantou num dente foi removido logo em sua captura.
A segunda temporada tem mudanças em relação a primeira. Enquanto que só uma vez foi mostrada a votação para desistência dos jogos, dessa vez, após cada partida, os jogadores sobreviventes podem escolher se querem continuar ou não — isso leva a diversos atritos, pois os jogadores agora, além da numeração, também são identificados com um círculo ou um xis, de acordo com os votos para continuar ou desistir. Ela também conta com jogos diferentes, o que é um ótimo argumento pro avançar do roteiro: como Gi-hun realmente foi campeão da última edição, ele consegue guiar algumas pessoas a passar com sucesso da primeira prova, Batatinha Frita 1, 2, 3. Ele conta aos sobreviventes qual seria o segundo jogo: na vez em que ele venceu, a segunda etapa consistia em recortar uma forma de um dalgona, biscoito feito de açúcar, altamente popular na Coreia, e que sempre traz algum desenho em sua face. O problema é que os jogos mudaram e isso causa desconfiança de todos os presentes.
Outro dos destaques é a revelação de quem é o novo jogador 001. O próprio criador dos jogos participou com este número na primeira temporada. Na segunda, o Líder assume, querendo se aproximar e saber mais das intenções de Gi-hun.
Essa nova temporada tem bons momentos, e o desenvolvimento dos novos personagens também é ótimo, ao mesmo tempo em que somos reapresentados a alguns dos que já conhecemos. Ela não tem conclusão. Fica em aberto para a terceira temporada, agendada para ter seu lançamento ainda em 2025. O que será da série, ainda não sei, mas confesso que a forma que ela acaba nessa segunda temporada é extremamente perfeita, com um cliffhanger que te deixa na ponta do sofá querendo mais.
PORÉM, NEM TUDO que reluz é ouro, como diz o ditado, e a segunda temporada de Round 6 apresenta diversos problemas, sendo o principal deles os furos de roteiro.
No segundo episódio, somos apresentados a Kang No-eul, que inicialmente parece ser mais uma jogadora, mas, posteriormente, é revelado que ela é uma das mascaradas que gerenciam os jogos. Isso contradiz o que foi estabelecido na primeira temporada, quando o Líder afirmou que todos ali usavam máscaras ou números para enfatizar a igualdade entre os participantes — mesmo que, na prática, houvesse diferenças. Na segunda temporada, essa regra é ignorada, e os mascarados frequentemente revelam seus rostos. No-eul, inclusive, entra em conflito com os outros mascarados ao descobrir os planos de remoção e venda de órgãos que ocorrem no local, o que fragiliza ainda mais a coerência da narrativa.
Outro ponto problemático é a mudança brusca no tom da série. O suspense e a tensão ainda estão presentes, mas, frequentemente, piadas são inseridas de forma forçada para quebrar o clima, o que prejudica a imersão. Muitos dos novos personagens foram claramente criados com o propósito de ser alívios cômicos, como o rapper Thanos (interpretado pelo rapper T.O.P), o ex-marinheiro Kang Dae-ho (Kang Haneul), Yong-sik (Yang Dong-geun) e sua mãe Geum-ja (Kang Ae-sim). Até mesmo Jung-Bae (Lee Seo-hwan), amigo de Gi-hun, e alguns dos homens desajeitados contratados no início da temporada cumprem essa função. Em muitos momentos, o excesso de humor acaba causando incômodo, tornando difícil manter a seriedade e o peso dramático que a série originalmente transmitia.
O término em aberto também pode ser frustrante, uma vez que a primeira temporada se encerra de forma quase que contida. Será preciso esperar o lançamento da terceira para que possamos descobrir qual será o destino de Gi-hun e dos jogadores que restaram após os jogos da segunda temporada.
NÃO HÁ DÚVIDAS de que a segunda temporada provavelmente será tão grande quanto a primeira. Mesmo mais curta, esta temporada ainda consegue cativar e prender o telespectador. Round 6 ainda cumpre seu papel básico de mostrar que, não importa o quanto um jogador tente, quem vence é sempre a casa. O destino de Gi-hun é incerto. Será ele a pessoa que irá mudar essa lógica?
Irajá, 21 de janeiro de 2025
Rio de Janeiro, Brasil
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