EM 1988, ROBERT POLLAK — um grande amigo online que possuo — entrevistou ninguém menos que Paul Norris para a revista Amazing Heroes [Heróis Surpreendentes]. O nome parece estranho de começo, e, aliás, Norris quase não tem o reconhecimento que merece, ao menos em terras brasileiras. Mas Norris, além de ter sido o nome da tira Brick Bradford durante 35 anos, também foi o criador do Aquaman, o famoso herói aquático da DC Comics. Norris se aposentou em 1987 e faleceu vinte anos depois, em 2007, aos 93 anos de idade.
Decidi traduzir a entrevista que, mesmo curta, é extremamente interessante, onde Norris dá um panorama geral de como foi sua vida e sua relação com os quadrinhos.
Paul Norris. |
ROBERT POLLAK [Amazing Heroes]: Por quantos anos você trabalhou na tira diária e dominical de Brick Bradford?
PAUL NORRIS: Eu estava entrando no trigésimo sexto ano da minha carreira com a tira diária de Brick Bradford. Comecei a desenhá-la de forma anônima em 1951 quando a saúde de Clarence Gray começou a ficar ruim. Passei a assiná-la em 1952. Gray continuou com a tira dominical até a sua morte, em 1957 e foi a partir daí que assumi o controle das páginas dominicais. Eu estava desenhando as páginas dominicais de Jungle Jim [Jim das Selvas] (até 1954) quando o [Sindicato] King Features decidiu entregar a tira de Brick para mim.
RH [AH]: Quais foram as tiras que você trabalhou antes disso?
PN: No final da década de 1930, eu desenhei uma tira dominical chamada Scoop Lenz para o Dayton (jornal diário de Ohio). Vim para Nova Iorque em 1940 para auxiliar Al Carreno na produção dos gibis do Blue Beetle [Besouro Azul]. Não foi muito bom. Então comecei a trabalhar sozinho. Após fazer algumas histórias para gibis, recebi a tira de aventura do Vic Jordan, que era distribuída pelo Newspaper PM (1942–1943). Me juntei ao King Features para desenhar o Agente Secreto X-9 em 1943 e depois fui para Jungle Jim (1948–1954).
RH [AH]: Você também escrevia as histórias além de fazer as artes?
PN: Sim. Eu estudei Jornalismo na faculdade e gostava de escrever tanto quanto desenhar. Escrevi inúmeras histórias para gibis: Yank and Doodle, Power Nelson, Flash Gordon e Jungle Jim.
RH [AH]: Quais foram as mudanças significantes nos personagens que foram feitas sob a sua direção [em Brick Bradford]?
PN: Eu estabeleci meus próprios personagens assim que foi possível. Naturalmente, eu mantive Brick Bradford bem como Ritt e Gray o criaram. Com o passar dos anos a tira se tornou o que eu queria que ela fosse e com isso fiquei mais confortável. Brick Bradford era realmente uma tira dos sonhos para produzir. Ela possuía uma vasta área para se explorar, era pura ficção científica.
RH [AH]: Você chegou a conhecer os criadores de Brick Bradford, [William] Ritt e [Clarence] Gray?
PN: Não, nunca conheci nenhum dos dois. Gray morava em Cleveland... E acho que o Ritt morava em Indianápolis. Eu morava em Nova Jersey. Em qualquer evento que ia, Ritt já tinha ido embora quando eu chegava ao local.
RH [AH]: Por que Brick Bradford se aposentou com você?
PN: O que aconteceu foi o contrário. Eu me aposentei com Brick. Era uma decisão superior da Hearst Corporation e do King Features de encerrar a tira de Brick depois de cinquenta e três anos e meio. Eu tinha prometido a minha esposa Ann que eu iria me aposentar com 73 anos. O sindicato facilitou. A última tira saiu no dia 25 de abril, um dia antes do meu aniversário de 73 anos.
RH [AH]: Quais foram os gibis que você trabalhou durante os últimos quarenta anos?
PN: Yank and Doodle e Power Nelson, para a Prize Comics; o Aquaman original, para a DC Comics; Flash Gordon, para a Dell Comics; Jungle Jim pra Pine e Dell Comics; Perry Mason, para o King Features; Captain Compass, para a DC Comics; Magnus, Aliens, Tarzan e Jungle Twins para a Western; Dyn-o-mite, para a Hanna-Barbera; essas são algumas das várias que me esqueci.
RH [AH]: Você teve algum assistente durante esses anos?
PN: Não. Letristas, sim. E minha esposa, Ann, era muito ajudante quando o trabalho começava a pesar. Ela amava preencher aquelas áreas com preto. Durante o fim da década de 1960, fiz muitas artes à lápis para a Western Publishing, que eram finalizadas por Mike Royer. E isso foi o mais próximo que cheguei de ter um assistente.
RH [AH]: Quais ilustradores e cartunistas você admira?
PN: Ilustradores: Matt Clark, Albert Dorne e Noel Sickles. Cartunistas: Al Carreno e Milton Caniff.
RH [AH]: Quem foi sua maior influência estilística na indústria?
PN: Os artistas que eu mencionei acima tiveram uma grande influência em mim, mas eu nunca tentei imitá-los.
RH [AH]: Você está planejando fazer algum trabalho com arte num futuro próximo ou distante?
PN: Não. Quando eu me aposentei, desmontei meu estúdio. Não parecia estar alinhado com minha ética de trabalho, porque eu era um workaholic, mas simplesmente desisti.
RH [AH]: Muito obrigado pelo seu tempo. Sua carreira e contribuições são longas e excepcionais. Você tem algum comentário final que gostaria de fazer?
PN: Primeiramente, muito obrigado pelas perguntas e comentários. Eu sempre disse que me tornei um cartunista porque era a única ocupação que eu sabia que me permitiria dormir até tarde em manhãs chuvosas. Agora, depois de quarenta e oito anos de trabalho, é um prazer não precisar mais enfrentar prazos... E todas as manhãs passaram a ser tratadas como manhãs chuvosas desde então.
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