Charles Schmidt em sua prancheta. |
“ELES ESTÃO ME MATANDO”, os visitantes na casa de Charles Schmidt, em Winthrop, Massachusetts, talvez ouviriam. E mais, “Trabalho? Não faço nada além disso!”, ou também “Ando tão ocupado nos últimos dias que acho que vou parar num sanatório!” ou “Se vocês, cartunistas, precisassem fazer apenas metade do trabalho que eu faço...”, entre outras frases.
E então Charlie boceja. Seus visitantes vieram ao muro errado para lamentar. Eles estão de frente a um homem que REALMENTE sabe o significado de trabalho.
Nos últimos quinze anos, sua vida numa casca de noz tem sido: acordar, ir para o emprego nos escritórios Hearst em Boston como um artista contratado, trabalhar o dia inteiro, chegar em casa, comer sua janta... E então começar a trabalhar em sua tira de ação frenética intitulada Sergeant Pat of Radio Patrol [Sargento Pat da Rádio Patrulha], licenciada pelo sindicato King Features. Todos os cinco dias úteis da semana. Os outros dois dias restantes variam entre a rotina de ficar em casa descansando ou trabalhar o dia inteiro em mais aventuras do inigualável Pat.
Tira dominical datada de 27 de abril de 1945. |
“Eu deveria estar enlouquecido tendo dois empregos que ocupam todo meu tempo”, Charlie diz com um sorriso no rosto, “mas já faz quinze anos agora e a única coisa que me aconteceu nesse meio tempo foi que fiquei quinze anos mais velho!”
Schmidt, que desenha Sargento Pat em sua continuidade providenciada pelo escritor Eddie Sullivan, nasceu no Brooklyn em 1897 e “sempre desenhou, desde o primeira vez em que segurou um lápis”. Muito baixo para os esportes na escola, ele se graduou em um colégio de Freeport, Long Island, com uma ambição ardente em mente: se tornar um cartunista. Mas os ganhos da família eram pequenos e ele precisou trabalhar como responsável pelas cobranças numa casa comercial. Pelo menos ele conseguiu os esforços de se tornar um homem de negócios. Depois de uma semana, ele abandonou o emprego e correu para o departamento de arte da New York American. Durante três anos, foi um office boy. E então, num certo dia mágico, se tornou membro da equipe.
Em 1917, ele foi enviado para Boston para cobrir um buraco no departamento de artes de lá — e nunca mais saiu do lugar, até hoje. Reconhecido como um dos mais valiosos artistas no ramo, um mestre na arte de retoques, criador de leiautes e mapas, letrista e também caricaturista, ele não conseguia abandonar aquele emprego mesmo que quisesse. Seus editores de Boston — um dos quais era Walter T. Howey, que teve a ideia do Sargento Pat — não deixariam. Ele também não sairia porque possui uma tinta de impressora em seu sistema interno e quer estar por perto onde puder respirar mais tintas, e ele também gosta das variações no tipo de trabalho que sua equipe lhe oferece.
A tira do Sargento Pat estreou em 1933 e foi impressa durante seus nove primeiros meses no Boston Record com o nome de Pinkerton Jr., antes do King Features a tomar para si no ano seguinte, mudar seu nome para Sargento Pat da Rádio Patrulha e distribuí-la nacionalmente.
Tira dominical datada de 13 de janeiro de 1946. |
“Diferente de muitos artistas”, ele comenta, “Eu desenho os personagens primeiro e coloco os balões depois. É um hábito meu e eu às vezes me encontro numas enrascadas, sem ter espaço suficiente para colocar as letras. Mas talvez isso seja algo bom, porque acaba forçando uma redução nos diálogos e previne que a tira se torne algo muito maçante. Eu mesmo não gosto de ler texto demais numa pequena tira.”
Ele não usa modelos, conscientemente, “mas alguns amigos acabam vendo que dois dos meus personagens são parecidos com minha filha e meu filho.” De vez em quando ele tira um de seus sapatos do armário só pra copiá-lo. “Ah, e você sempre vai saber quando eu comprei um carro novo: ele sempre vai aparecer nas tiras.”
Para os artistas aspirantes, Charlie tem um conselho: “Vão pra uma escola de Belas Artes — foi algo que eu não fiz. Estudem os diferentes estilos e técnicas dos que fizeram sucesso e, então, quando vocês tiverem uma ideia, rezem e torçam para que ela seja um sucesso também.” O mais importante requisito para um cartunista, ele responde, é o senso de humor.
No seu tempo livre, ele gosta de ler e se divertir com seu trem elétrico e sua ferrovia em miniatura. “Espera um pouco?”, ele ri, “Você disse ‘tempo livre’?”
Schmidt é agora um avô orgulhoso de quatro robustos meninos que estão sempre pedindo ao vovô para desenhá-los. Ele até consegue achar um tempo pra cumprir essa demanda. Seu filho, um ex-piloto de caças do exército, acabou de se juntar ao Departamento de Arte do Boston Hearst também — e Charlie espera que, um dia, ele possa continuar do ponto em que o pai parou.
Texto originalmente encontrado no Catálogo de
Artistas e Roteiristas de 1949, distribuído pelo King
Features Syndicate. Traduzido por Lucas Cristovam
em 9 de fevereiro de 2023.